terça-feira, 17 de janeiro de 2012

OUTRAS CARTAS DE COTOVELO 04

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, advogado e escritor

Nesta segunda-feira, o dia foi mais preguiçoso que os demais. Talvez seja a calmaria destas paragens, propícia para prosear e meditar, sempre usando os auspícios inigualáveis da sagrada rede nordestina.
O que dizer para os meus leitores? Bem, na semana que passou recebi várias visitas importantes – Sávio Hackradt e Adriano Gomes, do “Calangotango”, com um cafezinho feito na hora e tapioca caseira. Os familiares – Leda e Itamires e Moacyr e Iris.
Papos ecléticos dos primeiros e, obviamente, não perderia a oportunidade de explorar os demais na lembrança de fatos e pessoas que em breve utilizarei em livros que estou escrevendo.
De Leda, com a ajuda de Itamires, relacionei os funcionários do Tribunal Regional Eleitoral do nosso tempo (entre 1962 e 1971), precisamente, quando ali prestei os meus serviços. Devemos ter esquecido alguém, mas faremos outras sessões de recordação do passado.
A visita de Moacyr foi entrecortada com algumas doses de whisky com água de coco e churrasco feito por Ernesto. Aproveitei para recordar fatos importantes de sua vida, os quais serão registrados no livro que estou a escrever “O menino do poema de concreto”, onde contarei a sua interessante vida de pau-de-arara e carioca, com alguns detalhes curiosos, como também narrarei lances da operação “Arena das Dunas”, do que resultou a lamentável demolição do nosso Machadão.
Foram instantes de revelação e resgate da memória de pessoas, como José Arnaud, médico Agripino (do Hospital dos Servidores do Estado no RJ), Julinho Nelson, tio Paulo Gomes, Armando e Aníbal Cavalcanti, Eudes Moura e seu irmão “Desenho”, Jair e Jurandyr Navarro entre outros mais.
Revelações da cidade do Natal do tempo da guerra e do seu pós-guerra, e também dos costumes de então.
A minha vida bucólica de praia não fica somente aí, pois tenho assistido filmes memoráveis como A Papisa Johanna – história de uma mulher que se tornou Papa, numa época em que nem se permitia que ela aprendesse a ler. O filme épico tomou por base um livro polêmico, cercado da dúvida entre a verdade escondida pelo Vaticano ou obra de ficção. A trama ocorre em 814 do tempo presente, na aldeia de Ingelheim, no tempo conhecido como Idade das Trevas. Reagindo a tudo isso Joana foge de sua aldeia, vai viver, como homem em um Mosteiro, aprende a ler e estuda medicina, chegando a tratar do próprio Papa. Evolui no seu ministério religioso e é escolhida Papa, com a curta duração de apenas dois anos. A trajetória da Papisa Joana foi conhecida até o século XVII, quando o Vaticano resolveu apagá-la da história da Igreja. Verdade ou ficção, trata-se de um verdadeiro romance em que aventura, sexo e poder cruzam-se com maldições, guerras e heresias.
Outro filme: Vá e Veja – tendo por cenário a Bielorússia, próxima à fronteira com a Polônia, em 1943, contando a história do adolescente Florya (Aleksei Kravchenko), que é separado de sua mãe e levado de sua aldeia por um grupo de guerrilheiros antinazistas. Florya encontra em seu caminho uma garota, Glasha (Olga Mironova), deixados para trás e testemunham o bombardeio de uma vila pelos alemães, do que resulta sua surdez. Com algum tempo passado decidem voltar para casa de Florya, mas encontram a aldeia abandonada e descobrem que a família do rapaz foi dizimada. Florya, perturbado mentalmente com os acontecimentos, vaga por pântanos e florestas, testemunhando as maiores atrocidades, até reencontrar o grupo de resistência, ao qual passa a identificar líderes nazistas que deverão ser executados.
Em seguida, o DVD marcante, com o título - Uma mulher contra Hitler, contando fatos vividos no âmbito de universitários no prelúdio da segunda guerra, em que narra a resistência de um grupo conhecido por “Rosa Branca”, refratário à filosofia nazista, na pessoa de Sophie Scholl, ativista presa, julgada e condenada à morte. No espaço entre a instrução processual e a farsa do seu julgamento a moça dá exemplos exuberantes de coragem e argumentos filosóficos contrários ao regime, impressionando um agente da Gestapo, ao mesmo tempo em que consegue proteger os demais membros do grupo.
Assisti, ainda, algo de Betty Davis, Mário Lança e alguns “bang bangs” sem futuro.
Também consegui devorar alguns livros – Cangaceiros do Nordeste, de Pedro Baptista, me deleiteitando com a linguagem da prosa, do que grifei algumas frases para uso oportuno em algum trabalho. Parabéns a Abimael do Selo Vermelho. No mesmo caminho li No Tempo de Lampião, algumas poucas narrativas de Leonardo Mota e glossário de anedotas, adágios e notas sobre a poesia e linguagem populares. Também apreciei a mais nova Revista do Tribunal de Contas do Estado, edição em homenagem à Câmara Cascudo, com depoimentos de Diógenes, Sanderson e Serejo.
Finalmente, reli as crônicas de “Cascudinho” nas “Actas Diurnas “ selecionadas por Franklin Jorge, de onde anotei algumas que despertaram a minha curiosidade, a destacar – os nomes antigos das ruas da cidade, sobre os sinos da Matriz e os significado dos seus toques, o galo da torre da Igreja de Santo Antonio, a Santa Cruz da Bica, a Redinha, os teatros em Natal, os médicos em Natal, a morte do Presidente Parrudo, ocorrido no Barro Vermelho e traços biográficos de pessoas ilustres ou interessantes da cidade. Bela edição do Ludovicus e o Novo Jornal, em seu segundo ano de existência.
No mais, a leitura das mensagens na internet, os e-mails dos amigos, com notícias atualizadas, a leitura dos blogs e dos jornais diários, que me chegam com facilidade.
Quarta-feira vou à Natal me abastecer de novas leituras, entre as quais o livro de Querubino Procópio, ansiosamente aguardado e o vetusto “Do Sindicato ao Catete”, escrito por Café Filho e que Wandyr Villar conseguiu para mim.
(16/01/2012)

Um comentário:

  1. Dr. Carlos, querido amigo,
    fiquei feliz ao ler as deliciosas "Cartas de Cotovelo", em sua quarta edição. Como sabe, desde o nosso primeiro encontro, sou leitor de suas crônicas, que têm a construção literária que mais gosto: aquela que traz na sua essência todo o universo humano na sua mais pura significação.
    O reencontro anual com sua casa em Cotovelo, com seus vizinhos, a visita de amigos artistas e intelectuais, como o senhor, a imprescindível vendedora de "tapioca molhada", o olhar atento ao beija-flor no jardim, enfim, é uma deliciosa leitura que me faz sentir saudades daquela tarde em que, a seu convite, nos reunimos em Cotovelo.
    Sinto não estar em Natal nessa temporada de férias, mas, graças às suas Cartas de Cotovelo, daqui do Rio de Janeiro, vou sentindo a brisa da nossa terra e o cheiro do café com tapioca, através de suas crônicas... Só tenho a lhe agradecer.

    Um forte abraço e lembranças a Dona Terezinha.
    DIDI AVELINO

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