Salvai, Senhor, vosso povo e abençoai a vossa herança; sede seu pastor, levai-o nos braços eternamente” (Sl 27, 6-9).
Jesus, eu confio em Vós!
A TERNURA ENTRE POETAS
BRASILEIROS e PORTUGUESES
João Salvador
Memórias que tendes
Vagueáveis, flutuando pelas memórias que tendes na mente,
inquieta, impetuosa, inundada de vida,
como se faz quando se procura a solidão.
Rebuscáveis o passado … recordando.
É algo prazenteiro que faz parte do ser.
Nessa busca incessante, encontrastes um episódio.
Um episódio de amor puro, ternurento e belo.
Recordas-te o beijo fugido que roubas-te … cigana,
Naquela escada de pedra que fazia parte de vós.
Foi numa inocência perdida, que não tendes agora.
Tempos em que os jovens sonhadores,
com ensejos de Dom Quixote …
Sonhavam com projetos tresloucados,
Sonhos doces como mel que vos deleitavam.
Enchiam de prazer só de pensar o amor.
Ó o amor! Era tão deslumbrante, atraente e puro!
Quando contempláveis os adolescentes olhos vibrantes,
Cintilantes de luz. Ali se viam e logo se perdiam!
Os olhos brilhavam de paixão!
O corpo tremia, só por ver o amor.
A mera presença, um mero toque … um tremor!
O cheiro a flor virgem que emanáveis!
Sim! Sentis saudades desse tempo.
Uma época de glória e de conquistas,
em que se lutava pela pureza do amor.
Eram sublimes esses momentos de inocência!
Foram tempos harmoniosos, recordados com ardor.
Lembrados com melancolia, num misto de carinho e saudade.
As meras trocas de olhares, dos quais se vivia, ou
de um mero beijo furtivo que vos nutria!
Sim, eram belos esses tempos, inesquecíveis …
E dos quais vos recordareis nesta vida …de saudade!
CANTIGA PLENILUNAR
Ciro José Tavares
...E a lua cheia ouviu o canto das oceânides,
derramou seus raios prateados sobre o mar
aquietando vagas ruidosas permitindo
que adormecessem as ninfas do palácio de Netuno.
Inquieto o deus emergiu das profundezas
coberto pelo manto luminoso de corais escuros,
coroa de algas douradas,tridente de ouro e diamantes.
Embevecido, busca na praia encontrar Venus,
deusa vespertina caída da estrela no ventre do oceano.
Sedento da tez acobreada, dos lábios cor de púrpura,
sente o gosto de maduras avelãs nos seios da amada.
É diante desse êxtase que a lua reduz a claridade
e tristonha irradia somente a palidez do seu quarto minguante.
O GÁUDIO DE AUDI
CARLOS MORAIS DOS SANTOS
Os olhos se enchem
De mares ondulados
Em onírica festa
Dos fabulosos ornamentos !
Não há conflito ou aresta
Nos braços entrelaçados,
Nos desencontros de movimentos,
Nas curvas em contra-tempos,
que são poemas não rimados !
Os sentidos despertam
De júbilo provocado
Com a livre criação:
É gótico ressuscitado?
É barroco suavizado?
É a modernidade em libertação !
As emoções transbordam
Com a criação genial !
Mística de sonhos ardentes,
Das mil formas confluentes,
Na inimaginável Catedral !
Oh, sublime Gáudi tão diverso
Grande Arquiteto do Universo
É Divina tua Obra Original !
(*)Carlos Morais dos Santos
Membro da Academia Portuguesa de Letras, Artes e Ciências
Membro do Conselho Consultivo da União Brasileira de Escritores-RN
Membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN-Brasil
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Créditos de Lúcia Helena
A CARTA E A FOTO
(Amor que já era)
Ivam Pinheiro
Era a fotografia...
Cumprindo sua missão
No papel estava expressa
A paixão de ontem e hoje solidão.
Era a mensagem...
O bilhete escrito espera
E anexada à grafia de amor
A foto do amor passado - que já era.
Lá se Foi a Juventude
Pinhal Dias
Amora / Portugal
Lá se foi a juventude.
Existem por aí doenças do maligno
E outras de má alimentação
Consultar o médico será digno
P’ra livrar d’alguma intoxicação
Dizem que o câncer é fatal!? Mentira!
Existem impedimentos ao avanço
De tal cura por alguém que os vira
Qu’enriquece laboratório ao tanso
Trabalhou e chegou à terceira idade
Saúde foi praga de fatalidade
Essa vida com descontos…foi de rude
Salvé a todos, com saúde gratuita
Ser jovem ou idoso, que mais resulta?
Todos dizem: - “Lá se foi a juventude”
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Créditos de Lúcia Helena
FADO PORTUGUÊS
Fado Português
Eugénio de Sá
Quando ao Tejo regressaam
as primeiras caravelas
que da Índia eram tornadas
traziam fado com elas
havia fado nas velas
nos mastros, nas amuradas
e aquelas faces tisnadas
e aquelas mãos maceradas
de labutas e de mágoas
deixaram glórias nas águas
que levaram e trouxeram
os homens que as afrontaram
e o fado português
que no mar se ouviu primeiro
na boca de um marinhero
ensinou nobreza às vagas
dobrou cabos, vergou fragas
ensinou o Adamastor
que um homem vence o pavor
c’o a força de um povo inteiro!
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Créditos de Lúcia Helena
AO MEU MELHOR AMIGO
Adelina Velho da Palma
Há muito tempo cruzei-me contigo
mas nada aconteceu de extraordinário,
entre prematuro e retardatário
recusaste ser mais que meu amigo...
Descasei e joguei. Pra meu castigo
o vero afeto foi-me refratário,
minhas ligações - um mesmo calvário
e meus consortes - um só inimigo!....
Enquanto tudo o resto era precário
tua existência foi perene abrigo
no meu acidentado itinerário...
Há muito tempo cruzei-me contigo
e algo aconteceu de extraordinário
- pra toda a vida ganhei um amigo!...
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Créditos de Lúcia Helena
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