O HOMEM NA CADEIRA
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor advogado
Em uma tarde agradável neste dezembro festivo, após assistir o DVD “Man in the chair”, dei-me à tarefa da reflexão e a ela acresci devaneios acerca da realidade do presente estágio da nossa cidade do Natal e do próprio Estado potiguar.
O filme apresenta inúmeras personalidades, mas destaco, apenas, Flash – famoso e esquecido diretor de cinema e Cameron, um jovem estudante ainda do colegial, ambos problemáticos, seja pela velhice desprezada de um, seja pela juventude incompreendida do outro.
O encontro teve por ponto comum, o amor ao cinema. Flash, premiado em sua produção, termina num asilo de velhos, juntamente com inúmeros outros artistas da 7ª arte – atores, roteiristas, escritores, cinegrafistas, operadores de som, de imagem e outras habilidades mais.
A amizade fez despertar no jovem o sonho de fazer um filme e foi buscar socorro no velho diretor que, pelas razões próprias do seu estado de espírito o repudia, tornando o jovem ainda mais rebelde. De repente se encontram na ideia do filme, com outro roteiro – precisamente a forma de vida e de tratamento dados nessas casas de velhos, numa denúncia de medicamentos mal administrados, falta de cuidados mínimos de sobrevivência, tanto quanto Flash tanto combatia com o tratamento dado aos cães vadios, sacrificados pela saúde animal.
Para a concretização daquele sonho, são convocados aqueles velhos jogados ao abandono que, num passe de mágica, ou milagre mesmo, retomam sua auto-estima e voltam a desenvolver suas habilidades de antanho, até mesmo o encontro de Michey com o computador e se espantar com o acesso ao Google de lá constatando que eles não foram esquecidos e ainda tinham valor.
Os trabalhos são iniciados, conseguem financiamento com outro velho ícone do passado, que a vida concedeu o sucesso e o filme é realizado com toda a emoção que só os experientes são capazes de oferecer.
A amizade entre Flash e Cameron foi capaz de modificar vidas, restabelecer sentimentos familiares e, enfim, o filme é concluído com total sucesso.
Pensei então em transformar aqueles velhos artistas em monumentos de barro e concreto que fizeram a história e a cultura em algum tempo e que hoje são desprezados, como aquelas almas do asilo.
Estou agora estudando um filme que retrate todo esse descaso, os remédios inadequados que aplicam para alimentar um acervo mal preservado, uns até demolidos. Nesse filme existem os Flash e os Cameron. O primeiro, que no personagem do filme morre no final, seria o Machadão e o jovem Cameron o rebelde de qualquer idade, que ainda acredita no poder de resgatar a memória de tantas relíquias, para o conhecimento e uso de gerações futuras (o Juvenal Lamartine, o Aéro Clube, o Forte dos Reis Magos, a Biblioteca Câmara Cascudo, o Atheneu, o Parque de Exposição, por exemplo).
No devaneio deste escrito, para ambos os casos – das pessoas e dos monumentos, valem as expressões que encerram o filme:
“Nietzshe era cheio de merda a maior parte do tempo.
Não há massas dispensáveis no mundo.
Qualquer pessoa tem importância.
O que fazemos, quem somos pode afetar uma geração.Não é a força, mas a duração dos grandes sentimentos que fazem grandes homens.
Nietzshe acertou essa.”
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