CONTANDO HISTÓRIAS DO MEU SERTÃO.
O crepúsculo já começara o seu flerte com a Dama da noite. O velho Góis, de forma pontual estava em festa natalícia de um de seus aldeões. Guinés nativos, moqueados em óleo queimado e torrados em panela de barro. Completava era, o velho Chico de Basta, correndo o decênio dos oitenta anos, curtindo o banzo de uma viuvez que já dista mais de dois anos, quando se fora para o além, Márcia de Chiquinha de Domingo dos Pedro Raimundo, sua esposa.
Chico de Basta, é neto do Velho Ramilo e Dina do Maracujá. Gente de sangue e linhagem dos Gonçalves, que aqui aportaram no início do Sec. XIX, nas terras do Riachão de baixo, Amparo pelo favo genético dos Batistas x Araújo, com a alcunha de Pedão, Carabodé, Eloi, e no Maracujá com a expressão da Matriarca Dina.
Mas, voltemos a festa natalícia de Chico de Basta. Que volta e meia falava de sua esposa Márcia de Chiquinha de Domingo. Uma história bonita e de muita cumplicidade. Chico de Basta, nos seus primeiros dezoito anos de vida, foram quase todos vividos na Fazenda Três Riachos, pertencente ao Velho Manoel Ambrósio e a matriarca Generosa. Disse Chico de Basta o aniversariante, que logo na idade tenra, tinha função naquele feudo dos Ambrósios: Toda hora de rancho: Almoço às 9:00 horas da manhã, janta às 15:00 horas e ceia às 19:00 horas. Dava cabo de velho, grande e pesado búzio, produzindo a sonoridade chamativa dos homens braçais, que acorriam à Casa Grande, como formigas velozes para forrarem suas barrigas.
Grassava a década de cinquenta, já com 22 anos de idade, deixa os Ambrósios, e vem morar no Góis, Casa de taipa. A dona da gleba, vez por outra, convocava o Chico de Basta, para pilar arroz em casca. O Dueto era completado com a jovem Márcia, mulher bonita, nova, disposta, a herdeira daquelas terras. As tarefas ocorriam de três em três dias, sobre uma porção de meia cuia de arroz. A sicronia das batidas, e os olhares frontais e harmoniosos não tardaram produzir, aquilo que os literatos chamam de “cio em cupido”. Paixão voraz, platônica, arrasadora. Mas, tinha um problema grande. Márcia era bonita, dona de semente de gado, filha da patroa dos pais de Chico. Chico, enamorado, com uma roupa feita de “arranca touco”, batendo e vestindo, sem teréns para sobreviver, quanto mais para pagar o dote. Descoberto o romance, que entrava de noite à dentro, porém, sem as carnes tremerem. A futura sogra dar as contas do enamorado.
Mas, que depressa, Chico de Basta, corre até o atelier de um artesão da arte de vestir, Luiz Eloi de Souza, o velho troxote, e entrega seis metros e meio de fazenda, para a confecção da roupa de casamento. Na data do casamento, teve direito a ir de carro de passeio preto, do velho marinheiro Saldanha, com chofer de nome Padre Eterno.
Falecida há dois anos, Dona Márcia deixara seu retrato com um perfil de uma das moças mais bonitas dessa ribeira e muito roer do Velho Chico de Basta. Parabéns, Parente velho, pelo natalício, e por continuar sendo o eterno namorada de Márcia. Se você pilou duzentas cuias de arroz olhando para ela, tenho certeza que hoje, se ela voltasse, bateria mil.
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