domingo, 13 de novembro de 2011

INICIAÇÃO NO MUNDO DA CULTURA

Meu ingresso no mundo maravilhoso da cultura se deu nos idos de 1947, quando comecei a comprar revistas em quadrinho, dentre as quais eram editadas pela Editora Brasil-América, resumos de livros famosos, através da Revista “Edições Maravilhosas” e uma outra onde as histórias aconteciam com fotos dos protagonistas de filmes.Em seguida comecei a curtir música, com discos de 78 rotações comprados nas “Casas Lamas”, no bairro da Ribeira e depois na “Casa da Música”, de Gumercindo Saraiva.
Então resolvi iniciar a leitura de algum livro, sem gravuras e lembro que o primeiro foi “Anos de Ternura”, de A.J.Cronin, de quem, posteriormente adquiri o resto da coleção: “Anos de Tormentas, Três Amores, O castelo do homem sem alma, Algemas partidas, A cidadela, A árvore de Judas, Pelos caminhos da minha vida” e outros que não lembro no momento. Daí em diante não parei mais e fui construindo uma biblioteca que hoje deve ter alcançado os 6 mil volumes, incluindo um acervo substancial com os autores potiguares e livros técnicos.
Concorreu muito para esse mister, os poemas declamados por minha saudosa mãe e pelas minhas irmãs Leda e Elza. De preferência, Olavo Bilac e Olegário Mariano. Este, ainda ressoam nos meus ouvidos – “A samaritana”, "Os três cegos", "A filha do bandido" e outras cujos nomes não fixei precisamente.

Em homenagem a esse tempo, reproduzo aqui alguma coisa que consegui colher na internet.
 Dados biográficos:
Olegário Mariano era filho de José Mariano Carneiro da Cunha e de sua esposa, Olegária da Costa Gama, ambos heróis pernambucanos da Abolição e da República.
Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Em 1918, ele se tornou representante do Brasil na Missão Melo Franco, como secretário de embaixada na Bolívia. Foi deputado à Assembleia Constituinte de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados, depois foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira de Letras na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal entre 1953 e 1954. Exerceu o cargo de oficial do 4.° Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de notas.
Em 1938, em concurso promovido pela revista Fon-Fon, foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo. Nas revistas Careta e Para Todos, escrevia sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos. Ficou conhecido como "o poeta das cigarras", por causa de um de seus temas prediletos.
(fonte Wikipédia)
A FILHA DO BANDIDO

Vai em busca do pai esta criança
Pálida e triste, anêmica e franzina
Que lembra, tão despida de esperança,
A rosa emurchecida da campina


Vai só, a estrada é solitária e escura
Há um atalho onde o terror habita,
]De repente ela pára, treme e grita,
Que mãos estranhas o pulso lhe segura.


A bolsa ou a vida, alguém lhe brada
Erguendo o punhal assassino,
Ela, tremendo de susta, quase morta, espavorida


responde, reconhecendo a fala
A bolsa, sou pobre, não a tenho
Mas a vida, tu me deste, meu pai, podes tirá-la


 Boêmia Triste

Eramos três em torno à mesa. Três que a vida,
Na sua trama de ilusões urdida,
Juntou ao mesmo afeto e na mesma viuvez...
Um músico , um pintor, e um poeta. Éramos três...

O primeiro falou: - Veio da melodia
De um noturno, a mulher que me fez triste assim.
Amei-a como se ama a fantasia
E ela sendo mulher fugiu de mim...
Hoje tenho a alma como um piano vivo
Que mão nenhuma acordará talvez...
É por esse motivo que eu sou mais desgraçado que vocês...


Disse o segundo: - Meu amigos, a sorte golpeou-nos, com a mais vil ingratidão
À mim levou-me à morte, o que eu tinha de melhor
A ilusão de que a vida era ilusão.
A força, a graça, o espírito, a beleza
A estátua humana olímpica e pagã
Espelho, natural da natureza
Nota da flauta mágica de Pan


Morreu com ela a vida, a luz, a cor
Manhã de sol e tarde de ametista
A paleta e a esperança de um pintor...
Todo o delírio de um impressionista.
Fez-se um grande silêncio em torno à mesa,
Silêncio de saudade e tristeza...


O terceiro baixou os olhos devagar
Disse um nome baixinho e não pode falar...



O Enamorado da Vida

Eu sou um enamorado da Vida!
Para sentir melhor o céu na minha casa,
Plantei a minha casa entre o mar e a montanha.
Se as ondas vêm rugir a meus pés, a horas mortas,
A lua desce a mim numa carícia estranha.
Bebo as estrelas de mais perto... Abraço
Todo o corpo do céu num simples movimento.
E, quando chove, sinto a torrente das chuvas
Trazendo da montanha, em seu penacho de águas,
Frondes, ninhos, calhaus e pássaros ao vento.
Eu sou um enamorado da Vida!
Amo-a por tudo quanto ela me pode dar:
A água fresca da fonte, a carícia da sombra,
E até a calma silenciosa e mansa
Desse crepúsculo que baixa devagar.
Em cada mão de folha a minha boca bebe
O orvalho da manhã como um suave licor.
E abro os pulmões, sorvendo em tudo o que me envolve
Essa onda de volúpia e de êxtase e perfume
Que vem do amor e que me leva para o amor
Eu sou um enamorado da Vida!
Tenho ímpetos de voar, de galgar, de vencer
Colinas, penetrar o coração dos vales,
Relinchando feliz como um potro selvagem
Que solta as crinas no ar para melhor correr;
Ou retesar as asas brancas de gaivota
E atirar-me na fúria incrível das procelas;
Beber em haustos toda a glória do mar alto,
Rolar no bojo dos batéis desarvorados
Ou as asas enxugar no alvo lenço das velas
Vida! Quero viver todas as tuas horas,
As que prendi na mão e as que nunca alcancei.
Ser um pouco de ti no espelho das paisagens
Para, quando morrer, levar dentro dos olhos

A beleza imortal de tudo quanto amei.



Paisagem de Santo Amaro, década de 1920

Anita Malfatti ( Brasil, 1889-1964)
Óleo sobre madeira, 31 x 42 cm
Coleção Particular

NAS RUÍNAS DA CASA-GRANDE

A casa-grande é um espelho do passado :
Corroeu-lhe o tempo a pedra do batente
E do que foi solar da minha gente
Resta apenas um escudo brasonado.
Mas, através do paredão gretado,
Ouvem-se ainda na aflição do poente,
Ressonância de vozes e o frequente
Bater das velhas portas do sobrado.
Em cada telha há um gesto de abandono.
A voz que vem de longe das herdades
É a mesma voz que me embalava o sono.
E agora, em plena noite que se expande,
Piam as andorinhas . . . São Saudades
Que dormem no beiral da casa-grande.

(Poço da Panela – Recife, 1940).


Palavras a um desgraçado

Não procures no céo nenhum conforto
A’ tua dor, que o céo, indiferente,
Ante a miséria do teu corpo morto,
vendo-te triste, ficará contente.

Não procures nas arvores de um horto
Alguma, cuja sombra te acalente.
Deixa que passe o tempo... O desconforto
Irá com o tempo milagrosamente...

Mas se a dôr te pungir com mais crueldade,
Esmaga o coração com a mão crispada
Que emfim terás, num derradeiro alento,

Coragem de morrer sem ter saudade...
Fôrça para a renuncia desejada
ou redenção para o arrependimento.


MELANCHOLIA

Que dia insipido e enfadonho!
Maldito seja este domingo!
Lá fóra cae a chuva, pingo a pingo...
Cá dentro passa a vida, sonho a sonho...

Fumo e fumaça, no ar parado,
Sóbe ondeando... Eu bem sei.
É um contôrno impreciso, ennevoado,
Humanizando um sonho que eu sonhei...

Fecho os olhos de manso para vel-a
Com os olhos da memoria... A alva fumaça
Se adelgaça num gésto e passa pela
Vidraça

E ganha o parque e vae, diáfana e fina,
Caricia humana, sonho ephemero de amor...
Tem qualquer cousa de menina,
De menina, de passaro ou de flor...

Galga as frondes á chuva, desce ao rio
A´ tona da agua crêspa...
E´um minúsculo insecto luzidio,
Aurilavrada vêspa.

Vôa e revôa aos lyrios, louca,
Passando, em tímido meneio,
Pollen de lyrios para a flôr da boca,
Alvôr de lyrios para o alvôr do seio.

Depois, tonta de vida, ebriada volta
Garatujando ao longe outro roteiro...
Tem cuidado com o vento, fôlha solta,
Fôlha do jasmineiro!

E cresce á proporção que se approxima,
Rompe a distancia á tôa...
E´ uma rima que vôa
De uma Ballada, passaro da rima.

Atravéssa a vidraça...
E agora, erguendo as mãos implorantes por mim,
Ella, que foi sonho e fumaça,
Vae ser cinza e saudade... A vida é assim...
_____________________________
Obs. mantivemos a ortografia original.

Nenhum comentário:

Postar um comentário