ALGUNS NOBRES POETAS POTIGUARES
HENRIQUE CASTRICIANO
(15/3/1874-26/7/1947)
FEBRE
Por toda a parte rosas brancas vejo...
Rosas na fímbria loira dos Altares,
Coroadas de amor e de desejo...
Rosas no céu e rosas nos pomares.
Uma roseira o mês de Maio. Aos pares
Surgem, da brisa ao tremulante arpejo,
Estrelas que recordam, sobre os mares,
Rosas envoltas num cerúleo beijo.
E quando Rosa, em cujo nome chora
Esta febre cruel que me devora,
De si me fala, em gargalhadas francas,
Muda-se em rosa a flor de meus martírios,
0 som de sua voz, a luz dos círios...
0 próprio Azul desfaz-se em rosas brancas.
JORGE FERNANDES
(1887-1953)
MANHECENÇA
O dia nasce grunindo pelos bicos
Dos urumarais...
Dos azulões... da asa branca...
Mama o leite quente que chia nas cuias espumando...
Os chocalhos repicam na alegria do chouto das vacas...
As janels das serras estão todas enfeitadas
De cipó florado...
E o coên! coên! do dia novo —
Vai subindo nas asas peneirantes dos caracarás...
Correndo os campos no mugido do gado...
No — mên — fanhoso dos bezerros...
Nas carreiras da cutias... no zunzum de asas dos besouros,
das abelhas... nos pinotes dos cabritos...
Nos trotes fortes e luzidos dos poltros...
E todo ensangüentado do vermelhão das barras
Leva o primeiro banho nos açudes
E é embrulhado na toalha quente do sol
E vai mudando a primeira passada pelos
Campos todo forrado de capim panasco.
JOSÉ BEZERRA GOMES
(1911-1982)
CIRCO
Hoje Hoje
grande
estréia
do grande
Circo
Tom Mix
Adiado o
espetáculo...
O palhaço
fugiu...
Aviso ao
público...
WALFLAN DE QUEIROZ
(1930 – 1995)
ORAÇÃO
Meu Deus, estendei sobre mim tua mão
E então poderei entender o silêncio,
Então poderei andar sobre as águas do mar.
Meu Deus, estendei sobre mim tua mão,
E então poderei compreender teu Verbo,
Então poderei olhar os lírios do campo.
Meu Deus, fazei-me ouvir de novo tua voz,
Para que eu responda aos que vieram de Sabá,
E me restitua integral e perfeito a Ti.
(O testamento de Jó, p.25)
GILBERTO AVELINO
(9/7/1928- 21/6/2002)
A vida não será breve, se preservares
os felizes instantes. Dá-lhes a fecundidade
da semente. O teu corpo e a tua alma
celebrarão sólida aliança, ante
o denso amor que vieres a dar
e a ampla ternura que a doar vieres.
(Os Tercetos e Um Canto às Vozes do Mar,2001).
LUIS CARLOS GUIMARÃES
(1934-2001)
O CURRAL
Vacas no curral, sono-
lentas. Leite no ubre,
úbere. Cascos secam
o ar lustroso de
moscas. Fezes secam
ao sol: estrume.
Vacas, no curral
comum, ruminam.
BERILO WANDERLEY
(21/4/1934 - 20/7/1979)
SONETO DA VINDA
Vim dar-me a ti. Sinto-te, vez em quando.
Nas sombras dos meus sonhos me acompanhas.
Música dos teus olhos me embalando,
Me fazendo sonhar coisas estranhas.
Não venho como estavas esperando.
Venho como sou: pobre, sem façanhas.
Só posso dar-te um coração sangrando
Como o sal das minhas mágoas nas entranhas...
Vem, bebe em minha boca os meus soluços!
(Ah! quantas vezes solucei de bruços
sobre a angústia que bóia em meu olhar!)
Sei que me vais dizer coisas amigas,
Sei que os teus olhos cantarão cantigas
E os meus, de alegres, vão querer chorar.
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