AO MESTRE COM CARINHO
Por Franklin JorgeHonrado com o convite para fazer parte desse culto ao estudo e às letras produzidas por um grande escritor que contribuiu para o enriquecimento da nossa língua – o paraibano universal José Lins do Rego -, permito-me fugir um pouco do tema acordado para prestar homenagem a um desses raros professores que, por justiça, podemos incluir e chamar de mestre, por não ser ele, Antenor Laurentino Ramos, um mero repetidor de fórmulas mecânicas e enfadonhas, mas um educador de almas, como já tive a oportunidade de afirmar em circunstância jornalística.
Não tive o privilégio que tem todos vocês que aqui se encontram nessa manhã luminosa de ser ou de ter sido seu aluno. Conheci-o aqui mesmo, no IAP Cursos, não faz muito tempo e desde então tenho aprendido com o seu exemplo de mestre generoso e vocacionado para o exercício da educação que não se faz senão por amor ao conhecimento, determinação, vontade e pertinácia que nele sobejam de maneira inconteste e incontestável.
Disse Camille Paglia que, uma vez na vida, quando se tem sorte, tem-se um grande professor. E, acrescenta, ao falar de seu professor Milton Kessler, que para essa escritora ítalo-americana personificou o ideal das artes em síntese dinâmica. “Grandes professores” – e este é sem dúvida o caso do Professor Antenor -, “vivem a matéria que ensinam”, explorando e explicando simultaneamente, sem pedantismo e sem empacar-se na retórica das coisas feitas, como fazem aqueles que apenas repetem o programa didático de maneira convencional, sem entusiasmo e sem despertar o entusiasmo em seus alunos. Sua escola não é inerte nem aborrecível. Ser professor é, pois, a maior das vocações. Uma nobre maneira de ser e estar no mundo.
Jamais conheci um professor – e tive excelentes professores, a começar por minha avó materna -, que se fizesse ouvir por seus jovens discípulos com tanta avidez, proveito e satisfação. Como o Kessler descrito por Camille, Antenor mostra livremente sua emoção, com sensibilidade e discernimento. A paixão que o domina, ao discorrer sobre a vida e a obra do escritor José Lins do Rego, justifica plenamente esse seminário, visto que faz bem aos jovens ver a franca emoção em seus professores.
Há, na pedagogia desse mestre tarimbado, a confluência do rigor e da paixão que resultam da prática e da consciência intensificada da realidade que contamina a todos aqueles que porventura tiveram ou tem o privilegio de beneficiar-se com o seu exemplo pleno de luz e de sentido. Uma noite dessas, na casa de Aldorisse Henriques, nossa amiga incomum, pude testemunhar mais uma vez a maneira como o Professor Antenor se comunica com a matéria que o empolga. Queria que víssemos um documentário sobre esse escritor que é objeto da sua admiração; uma admiração que se erigiu em motivação e culto. Somente a custo pude dominar a emoção que me avassalava de maneira irresistível.
Seu exemplo – ou paixão – se ergue contra o conformismo, ilumina e amplia o conhecimento, pois vive generosamente a matéria que ensina, como a dizer-nos que ler e escrever todo mundo aprende, mas o conhecimento que se pode haurir da obra de um grande escritor é uma conquista do espírito. Assim, através da leitura multifacética de José Lins do Rego – autor que se tornou parte de sua essência, por ele citado de cor e por extenso -, o Professor Antenor propicia aos seus discípulos vivenciar as emoções de um coração bom e tenaz, fazendo-os descobrir pelo exercício da inteligência “a complexa rede de significados que um texto pode ter”, na feliz expressão de Ana Maria Machado ao reportar-se em um de seus livros ao papel do professor.
Jovem de 70 anos, como o mais jovem de seus discípulos, está o Professor Antenor no auge da vida e, magnanimamente, em vez de pedir dá presentes. Por isso, diria que pessoas egoístas e sovinas não empolgam nem podem ser mestres. Não é o caso de Antenor Laurentino Ramos.
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Fonte:O Santo Ofício
setembro 18, 2011
Transcrito do NOVO JORNAL [Natal, 18 de setembro de 2011]
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