QUARTA-FEIRA DE TREVAS
É o momento em que as igrejas cristãs de todo o mundo celebram o triste ofício divino, cantado na Semana Santa, conhecido como Quarta-feira Santa, também é chamado Quarta-feira das Trevas. Essa tradição data desde o Século VII, e consiste nas celebrações litúrgicas.
Tais celebrações não guardam simetria, pois em alguns casos antecipam as exéquias do Senhor, desprezando a sequência dos acontecimentos - prisão, julgamento, martírio, crucificação e ressuscitação de Cristo.[Desde o séc.XII, o nome ‘ofício das trevas’ indica a oração noturna (matinas e laudes) do ofício divino nos dias Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia. As matinas e laudes rezadas seguidas contam 14 salmos e nove leituras, das quais algumas lamentações do profeta Jeremias. É “de trevas” pois, no decorrer dele, apagam-se sucessivamente 14 velas em memória das trevas que cobriram a terra na morte do Senhor. Para este fim, é usado um candelabro triangular com 15 velas. A vela da ponta, a décima quinta, representa o Cristo. As outras representam os onze apóstolos e as três Marias. Segundo vários autores medievais, apagar uma vela após cada salmo significa o abandono de Jesus por seus seguidores, pricipalmente no horto. A liturgia antiga colocava a última vela acesa atrás do altar para trazê-la de volta mais tarde, talvez no amanhecer, simbolizando assim a morte e a ressurreição do Senhor.[1] Círio pascal. A décima quinta vela no alto do candelabro triangular é chamado galo ou galo das trevas, também em Portugal. No final do ofício cantado em latim, era costume fechar os livros com força exagerada. Segundo o Goffiné, "remata o officio um rumor confuso, que lembra o tropel e queda tumultuosa da cohorte, que, guiada por Judas, veio alta noite aprisionar a divino Salvador no Horto das Oliveiras”.[2] Já para outros, o barulho no final do ofício significa o terremoto que acompanhou a morte de Jesus, ou então a destruição de Jerusalém. Antigamente, na igreja matriz de Iguape (SP), "sobre o assoalho de largas tábuas de madeira de lei os pés dos fiéis, batendo fortemente, produziam um ruído de trovão, no ofício das trevas na Semana Santa".[3] O “ofício de trevas”, que indicava as orações noturnas de três dias seguidos, hoje se resume em uma única celebração. E, devido ao excessivo verbalismo e a pouca fantasia litúrgica, somente em poucos lugares encontramos esta cerimônia cantada. Jota Dângelo reflete: “O ofício das trevas é, na realidade, o início de todo um ritual, quase em extinção, das solenidades da Semana Santa. Em São João del-Rei elas conservam-se intocadas, precedidas de uma faina e um labor coletivos. Nas sacristias, bastidores bentos deste grande palco religioso, é de ver-se os preparativos ritualísticos para a grande festa barroca. Reformam-se as tochas, rebordam-se paramentos, ornamentam-se as tribunas, povoa-se de flores a capela do Santíssimo, lustra-se o esquife, repara-se o pálio, fazem-se brilhar lanternas e custódias, enjarreiam-se os andores, engomam-se as opas, lavam-se as alvas, passam-se os hábitos, providenciam-se cartuchos de amêndoas, asas de anjos, trajes de figurados, capacetes de centuriões, incenso para os turíbulos, montam-se palanques, lustra-se a prataria das bancadas. Uma atividade frenética domina uma centena de colaboradores sem qualquer remuneração. É a fé que nos move? A todos? Não importa. O ritual permanece vivo”.[4]
[1] Cf. BRINKHOF, Lucas. ofm; et alii. Liturgisch Woordenboek. Roermond en Maaseik, J.J. Romen en Zn, 1958-1962. pp.560-571; HEIDT, A.M. Catholica. Vol.1. Hilversum, Stichting Catholica ,1968. pp.640-641.a
[2] GOFFINÉ,L. Manual do Christão. Rio de Janeiro, Colégio da Imaculada Conceição (Botafogo), 1900. p.430.a
[3] MACHADO, Benedito. Senhor Bom Jesus de Iguape. São Paulo, Luz e Silva Ed., 1990. p.24.a a aa
[4] DÂNGELO, Jota. “O Rito Barroco da Paixão”. In: Palavra. Ano 2. No.13. Maio/2000. pp.96-97.
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Fonte: http://www.religiosidadepopular.uaivip.com.br/ (com adaptações)
ÚLTIMA CEIA DO SENHOR
A instituição da Ceia do Senhor Jesus ocorreu no decorrer da Última Páscoa, celebrada por Jesus e os Seus discípulos, na noite em que Jesus foi traído.
Foi instituída na sexta-feira do dia 14 de Nisã (João 13.30), antes de Sua saída para o Getsêmani, onde Jesus orou em agonia ciente do que estava por suceder (Mat 26-27). Portanto, ocorreu no mesmo dia da crucificação e morte de Jesus Cristo. Vede o Dia em que ocorreu a Última Páscoa.
Por ocasião da Última Páscoa, Jesus tomou dois dos elementos que faziam parte da Páscoa e, transforma a antiga Páscoa na Ceia do Senhor Jesus. A Páscoa judaica havia cumprido seu propósito. Pois, profeticamente ela apontava para o sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus (João 1.29). O Êxodo deu vida à nação de Israel. O sacrifício de Cristo fez nascer a Igreja, um povo proveniente de todas as nações. «Enquanto comiam, tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Concerto, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados» (Mat 26.26-28).
«...Enquanto comiam...» (o cordeiro assado). Enquanto pensavam na grande libertação que Deus concedera a Israel segundo a Antiga Aliança; o Senhor Jesus providenciava a comemoração de um novo livramento, segundo a Nova Aliança, mediante o derramamento do sangue, e o sacrifício de um Cordeiro diferente. Cumpre Jesus as verdades tipificadas na Páscoa judaica, deixando-a de lado para dar lugar à Páscoa da Nova Aliança, A Ceia do Senhor Jesus Cristo, a Santa Ceia.
«... tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu e deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo». Lucas acrescenta dizendo: «que por vós é dado; fazei isto em memória de mim» (Luc 22.19, ver também em 1 Cor 11.24). Jesus tomou um pão asmo (sem fermento) disponível na Páscoa, proferiu uma bênção, partiu-o e deu aos seus discípulos, dizendo: «...isto é o meu corpo», isto é, Jesus deu um novo significado ao rito, dizendo que o pão representava o Seu corpo. Jesus considerou a Si mesmo como o Cordeiro Pascal, oferecendo-se em sacrifício para a libertação da humanidade. Na Páscoa judaica, o pão sem fermento significava os sofrimentos dos filhos de Israel, por isso chamado de «o pão da aflição» (Dt 16.3). Na Santa Ceia, o pão sem fermento, ilustra o sofrimento e morte de Jesus Cristo. A distribuição dos pedaços significa para que os que recebem, participação nos benefícios daquele Santo Sacrifício. Por isso, a Santa Ceia é também chamada de «comunhão» (gr koinonia), que literalmente significa «participação». Embora que Jesus na ocasião não estivesse ainda literalmente sido oferecido em sacrifício, contudo, Ele antecede o acontecimento, conscientizando assim os Seus discípulos sobre o Novo significado da Páscoa: «Fazei isto em memória de mim» (Luc 22.19). Isto comemora e renova o que Jesus fez por nós.
«...E, tomando o cálice, e dando graças...». Este era o terceiro cálice de vinho (isto é, vinho não-fermentado misturado com água) que se bebia na Páscoa, chamado de «o cálice da bênção» (1 Cor 10.16), porque uma benção especial era pronunciada sobre ele; era considerado o cálice principal, já que era tomado depois de comer o cordeiro (comer o cordeiro era a hora mais sublime da Ceia pascal, por isso, é que Judas não comeu o cordeiro, mas saiu antes). Assim, como Jesus abençoou o pão antes de partir, também deu graças pelo cálice, antes de distribuir aos Seus discípulos.
«...Bebei dele todos..». A distribuição do cálice lembra-nos a «comunhão» do sangue de Cristo (1 Cor 10.16), ou seja, compartilhar dos benefícios obtidos através da Sua morte redentora. Na ocasião todos os discípulos de Jesus (exceto Judas Iscariótes) compartilharam do corpo e do sangue de Jesus Cristo, representados pelo «pão asmo» e pelo «cálice de suco de uva misturado com água».
«...Porque isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança...». Na distribuição do cálice, Jesus anuncia aos Seus discípulos que uma Nova Aliança estava sendo instituída, mediante a Sua morte sacrificial, que estava sendo selada com o Seu próprio sangue, representada pelo cálice. A Aliança instituída por Cristo
é chamada «Nova» porque contrasta àquela feita com Israel no monte Sinai, ao iniciar o período da Lei. A primeira Aliança foi estabelecida pelo sangue aspergido de animais sacrificados (Heb 9.16-22). A Nova Aliança tornou-se válida, através do Sangue Imaculado de Jesus Cristo, vertido na cruz (Heb 8.6-13). A Antiga Aliança era das obras; requeria obediência a Lei (Êx 24.3-8). A Nova Aliança leva ao perdão dos pecados e à transformação da natureza humana; que permite que a Lei do Senhor Jeová seja amada e guardada (Jer 31.31-34; Rom 3.23-31).
«...Derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados». Todos aqueles que, pela fé aceitam para si o sacrifício expiatório de Cristo, recebe o perdão dos seus pecados. «Todos»: A redenção é oferecida para «todo aquele que crê»; todos podem vir, ninguém é excluído senão àquele que assim o deseja. A religião certa, é aquela que soluciona o problema do pecado. O Verdadeiro Cristianismo é esta religião, porque o Seu fundador é Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos (1 Tim 1.15; 2.3-6).
As palavras interpretativas acerca dos elementos «corpo» e «sangue» têm sido estimadas de várias maneiras diferentes. Vejamos:
Transubstanciação:- (do latim transubstationis). Doutrina romanista oficialmente adotada no quarto Concílio de Roma em 1215 d.C., e, reafirmada no Concílio de Trento em 1551 d.C. Este posicionamento teológico ensina que, quando o sacerdote abençoa e consagra os elementos; «o pão» e o «vinho» transformam-se, respectivamente, na carne e no sangue de Cristo. Ela ensina que características como a aparência e o sabor dos elementos permanecem os mesmos, mas que a essência interior, a substância metafísica, foi transformada. Nisto fazem eles uma interpretação muito literal das palavras de Jesus: «Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue» (Mat 26.26-28). Não há base para qualquer equivalência literal, como sucede a doutrina romanista da Transubstanciação. Leia em Gên 40.9-23; 41.26: Dan 7.17; Luc 8.11; Gál 4.24; Apoc 1.20. Salientamos ainda que, comer carne humana e beber sangue humano reais é ato de canibalismo, fato que os Apóstolos prontamente rejeitariam (Lev 17.10; João 6.31,40,51-58; Atos 15.20).
Consubstanciação:- (latim consubstantiatinem). Ato de se tomar uma substância juntamente com outra. Uma posição teológica que procede dos ensinos de Martinho Lutero, com o objetivo de explicar a função do pão e do vinho na celebração da Ceia do Senhor Jesus. Lutero ensinava que o Corpo e o Sangue de Cristo estão «com, dentro de e abaixo de» os elementos do pão e do vinho, doutrina esta que posteriormente veio a ser chamada de «Consubstanciação». Os seguidores de Lutero asseguram que no ato da Santa Ceia, o «pão e o vinho» unem-se às moléculas da carne e do sangue de Cristo. Na verdade, Lutero por propósito estava tentando desvincular-se da doutrina romana da Transubstanciação. Porém, de acordo seu ensinamento, os seguidores de Lutero não conseguiram livrar-se da doutrina romana. Assim, como a doutrina da Transubstanciação, Lutero levava a sério o sentido literal das palavras figuradas de Cristo.
Simbolismo:- A indicação mais valiosa acerca do significado das palavras instituidoras proferida pelo Senhor Jesus, se encontra no papel que o alimento e a bebida desempenharam no ritual da Páscoa judaica. Jesus disse aos Seus discípulos mediante as Suas palavras, e, o simbolismo profético que usou, que o significado original do rito pascal fora então transcendido, em vista do fato que Ele era (é) o Cordeiro que cumpre as predições e prefigurações do Antigo Testamento (1 Cor 5.7). Semelhantemente, quando Jesus tomou «pão e o cálice» e deu-os aos Seus discípulos dizendo: «Fazei isto em memória de mim...», não estava simplesmente a exortá-los para que mantivessem boa comunhão entre si, mas, estava-lhes transmitindo um rito mediante o qual podiam mostrar em símbolo a Sua presença eterna com a Sua Igreja. O pão sob a Sua Palavra Soberana tornou-se o símbolo de Seu Corpo oferecido em Sacrifício redentivo (Heb 10.5-10), e, o Seu Sangue derramado na morte, relembrava os ritos expiatórios do A.T., o que foi no «cálice da benção» sobre a mesa. Este cálice dali por diante fora revestido de uma nova significação, como o memorial de um Novo Êxodo, realizado em Jerusalém. No «pão» e no «cálice», o adorador recebe, «mediante a fé» o verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo. A Santa Ceia é, contudo, um ato «sagrado e espiritual». Ela nos revela o drama do Calvário, da nossa salvação, assim também, transmite-nos a Vitória de Jesus Cristo sobre o pecado, a morte e o diabo. Então, portanto, o «pão» e o «cálice de vinho» simbolizam respectivamente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Transubstanciação Espiritual:- Contudo, a Ceia do Senhor Jesus é mais do que meramente um símbolo: porquanto fala da realidade da transubstanciação espiritual. Em outras palavras, a substância da natureza humana é paulatinamente transformada na natureza de Cristo; e todos os aspectos da redenção, que envolvem as operações do Espírito Santo, estão inclusos nisso. Assim, pois, a «natureza» de Cristo é Transubstanciada nos remidos, por meio do Espírito Santo. Disso é que consiste a plena comunhão com Ele, essa é a verdade salientada nesse rito. Pode-se esperar, contudo, que o próprio rito da Ceia do Senhor Jesus envolve mais do que meramente a simbologia, porque o grande propósito Divino da Transubstanciação dos remidos, segundo a natureza de Cristo, é fomentado e ajudado pelo senso de devoção e piedade que acompanha a celebração da mesma. E o espírito de respeito e solenidade que acompanha esse memorial pode acompanhar a vida diária do remido. Dessa maneira é que a Ceia do Senhor do Jesus é mais do que um símbolo, pois faz parte de uma grande realidade mística (ver João 6.33, 35, 50-56). A Santa Ceia relembra a nossa união e participação na Vida de Cristo, mas não precisamos pensar em alguma participação literal dos elementos místicos do seu Corpo e de seu Sangue (João 6.53).
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