terça-feira, 17 de abril de 2012

HOMENAGEM ENTRE AMIGOS


A MAIS LONGA DAS ESPERAS

Ao Pedro Simões
Por Ciro José Tavares

“Sob carvalhos sombreados e escuros, floresciam
as avencas que exalavam um perfume agradável,
e debaixo das ribanceiras cheias de musgo
dos cursos d’água pendiam inumeráveis renques
de samambaias e tinhorões.”
John Steinbeck, in A Leste do Éden

Agora que cruzamos nossas últimas fronteiras
somos convidados pelos deuses a lavar
o que restou das noites derramadas
na insólita matéria que nos cobre.


Vamos pelas mãos de Tétis que de Peleu gerou Aquiles,para sermos batizados,outra vez, no azul profundo do Egeu,
depois vestir-nos com a sagrada túnica de Nessos.


Assim, puros e libertos, deitaremos nossos olhos saudosos sobre os vales verdes da nossa Tessalônica.


E sentiremos emergir do ventre da terra morena
o aroma inconfundível das romãzeiras esquecidas
nos quintais das casas que deixaram de existir.


Agora nebulosas horas da existência atravessadas
Somos espécies raras de armaduras
porque a mais longa das esperas ainda não nos derrotou.



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