RELEMBRANDO LAURO DA ESCÓSSIA
Valério Mesquita*
Em 1981, o plano editorial da Fundação José Augusto, a qual presidia, contemplava a publicação do livro “Memórias de um Jornalista de Província”, do mossoroense Lauro da Escóssia, profissional da imprensa e então diretor do Museu Municipal de Mossoró. A obra foi composta e impressa na Gráfica Manibu da Fundação José Augusto e lançada em Natal, na livraria Universitária sob a bandeira desfraldada de Walter Pereira com a presença do mundo cultural de Natal e de Mossoró. Raimundo Augusto da Escóssia, seu filho, meu colega do Tribunal de Contas, trouxe-me a foto do evento para a minha curiosidade e alegria no ensejo da data do centenário do seu pai. Prometi-lhe que faria o registro público para resgate do relato autobiográfico daquele que foi não somente um marco na imprensa mossoroense mas que deixou o legado primoroso de discípulos como Dorian Jorge Freire e Jaime Hipólito Dantas que enobrecem a intelectualidade da terra de Vingt-Un Rosado.
O livro tomou o número CLVI da Coleção Mossoroense e a capa confeccionada pelo competente artista plástico Vicente Vitoriano. O prefácio de Dorian Jorge Freire foi inexcedível no estilo e na forma emocional que só ele sabia fazer, dizer e sentir quando o assunto era Mossoró e seus ídolos. A orelha foi de Raimundo Soares de Brito, monstro sagrado do tabernáculo da cultura daquele “país”. Senti-me, partícipe desse banquete de reminiscências do mestre Lauro da Escóssia porque decidi, à época, imprimir as estórias vindas de sua infância à maturidade, entre 1905 até aqueles dias do ano da graça 1981. A narrativa do autor se confunde com a própria história de Mossoró na diversidade dos temas focalizados.
Relembro-o quando o conheci pessoalmente, do alto dos seus 76 anos, aqui em Natal, na manhã luminosa dos autógrafos. O corpo, pouco curvado, pareceu-me advinda da forma da postura repetida, à máquina de escrever. Os olhos expressivos procuravam detalhes nas coisas que enxergavam como todo bom escriba provinciano. A cabeleira leonina revelava as lutas vencidas e outras adiadas porque ninguém vence todas. Exalava por todos os poros o jeito de ser, o jeito inconfundível do ser mossoroense. Ninguém melhor do que Dorian traçou o seu perfil, como amigo, colega, compadre e aluno no seu memorável prefácio. Superar o brilhante colega e imortal quem há de? A impressão que Lauro me deixou é só minha, exceptuando-se a alegria singular de haver contribuído para a impressão do seu primeiro livro.
Nasceu, como bem afirma, na madrugada friorenta de uma quinta-feira 14 de março de 1905, no número 16 da rua Almeida Castro, centro de Mossoró. A sua marca registrada, em meio a tantos fatos notáveis ligados a sua vida, está fincada na trincheira jornalística de “O Mossoroense”, verdadeira universidade onde se formou e educou gerações na arte e na lide de informar, servir e defender sua urbe, como diria o velho e saudoso alcaide Dix-Huit Rosado.
Nas comemorações dos 100 anos, “Memória de um Jornalista de Província” mereceu a 2ª edição de parceria com outras pertinentes homenagens ao velho repórter. Ao redigir a ata dos meus sentimentos pela primeira edição, eu o faço com o orgulho de haver também modestamente contribuído para que se revelasse a força evocativa de um baluarte do bravo povo de Mossoró.
Como jornalista, Lauro tinha rara luz singular que provinha de dentro de si mesmo, sem reflexo político de ninguém. Cresceu e se firmou entre as raízes de sua terra, com a tez queimada no cristal do sol de Mossoró. Na lide jornalística, Lauro honrou e dignificou o jornalismo de sua terra.
(*) Escritor
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