Cartas de Cotovelo – Verão de 2024 – 04
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
SIMPLICIDADE E DOÇURA
Meu retorno a Cotovelo foi providencial. A brisa, ainda que lutando contra um calor incomum, deu-me coragem a voltar a ler e escrever.
Selecionei textos mais suaves que aquela linguagem pesada dos clássicos e, dentre os livros dei logo preferência para o recente, de crônicas simples e doces da minha amigas Maria Emília Wanderley.
Programei que minhas leituras seriam pausadas para não espantar a preguiça natural das redes na varanda, como aconselha Cascudo: "O leito obriga-nos a tomar seu costume, ajeitando-nos nele, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo".(Redes de dormir).
E dei-me ao prazer da leitura do livro “Lugares em que ancorei minhas lembranças”. Contudo, logo esqueci a programação, pois a obra não permite parar no tempo face o sabor de cada capítulo – alguns até reli para melhor absorver o seu sabor.
De imediato revela uma verdade, uma relembrança de lugares, pessoas e vida, as boas ou as desagradáveis, o que permite a afirmativa: Eu não tenho idade, o meu tempo é hoje.
Seguindo esse mesmo passo, a minha idade vetusta não me impede sonhar, até mesmo voar por lugares onde vivi e conquistei com a minha inesquecível THEREZINHA. Claro que o voo de agora é tentando descobrir o exato local onde ela se encontra. Porém sempre acordo nos momentos mais importantes, deixando-me a molhar o rosto com as lágrimas de saudade.
A escritora cultua a família construída, em número igual à minha e agradece a Deus os diamantes recebidos, que alimentam a coragem de continuar convivendo com a idade.
No capítulo dos “Elogios” comparo com alguns comigo ocorridos, a exemplo de: “Carlos é tão bonitinho, mas muito baixinho!”.
Lembrei-me de vários acontecimentos, como a Redinha sem luz elétrica e o fogo fátuo, o lobisomem assumidos por muitos, mas parece que era mesmo um conhecido escritor das calçadas do São Luiz, ou não!
A casa dos meus avós tinha semelhança com a dela, a assertiva de que só se aprende amando, a janela que servia de sentinela ao cotidiano, como aconteceu ao tempo em que morei na rua Pedro Velho, em Macaíba, o jardim, o pomar, as fases – música, cineasta e jardineiro, que ainda persistem – gosto de cantar como na adolescência, sonho em transformar meu romance “Amor de Verão” em um curta-metragem e substituo a minha amada na conservação do jardim que me deixou de herança, com os gatos e tudo o mais.
Bons momentos. M.E. escreva mais!
Partilhar o bom sabor de uma deliciosa leitura é ato generoso de quem vê a vida como uma mesa farta onde, indistintamente, podemos tomar assento e degustar experiências vividas.
ResponderExcluirBelo texto !