REFLEXÕES SOBRE JOGO DUPLO
Valério Mesquita*
Fica decretado que no período da quaresma os homens públicos, já tão vergastados, não permaneçam submissos ao jogo da mentira. Não será preciso usar a couraça da desfaçatez para denegrir o semelhante. O Poder Legislativo, antes, rinha real, escarlate, com suas armadilhas e contendas, transmudou-se em Assembleia de Deus onde todos oram unidos pela paz enganosa dos pântanos. Antes, vi a baba e a saliva estilhaçarem vidraças num chiado contínuo além do brilho de punhais. Hoje, plantou-se uma estação de teorias esquisitas de acomodação e lazer. Esqueceram o andarilho vento alísio e caminheiro, portador de embates em favor da economia falida do Rio Grande do Norte. Enquanto isso, no palanque do dono da eleição, nenhum sopro eólico e planejador, irrompe a brida do cavalo viajor, à frente do tropel da sucessão.
Cumpre-se a assertiva de que jamais o lobo e o cordeiro jantarão juntos. O clamor do povo não chega porque o pasto é qualificado, mas a penúria é certa. Existe no sentimento de determinados homens públicos uma malandra e esperta fome de guaxinim. O povo deve exigir que a verdade seja servida antes dos aperitivos. Os rigores do combate a corrupção no país obrigaram o político aprender que tudo não é permitido. Ele deve deixar de ser privatizável, inconveniente e circunstancial. O sol das manhãs vindouras será para todos. Fica estabelecido, em nome de Jesus, que os políticos não se reúnam apenas para discutir os seus interesses de se eternizarem nos mandatos. E a imposição de que somente as suas vontades sejam revelantes, mas os segredos continuem irrevelados.
Cá do sereno, percebo que tudo o que acontece com a classe política é fruto do arbítrio. Nesse baile de máscaras, se escondem sorrisos e punhais. Não enxergo bem quem está dançando brega ou funk. Mas, me lembro daquela quadrilha junina de Lampião que no ensaio da dança caipira, exatamente no segundo movimento, no anarriê, quem vai levar o dedo indicador à boca? A omissão vai sobrar pra quem? Continuará valendo a tese ou a tesão de que contra governo rio cheio e o real ninguém dá jeito? Ante tudo isso, fico com a reflexão do escritor argentino Jorge Luiz Borges para acrescentar que não somente “O velório gasta os rostos”, mas candidato ruim também. Na política, devemos entender que não existem aliados, mas conspiradores que se unem.
Admito que o mapa político-eleitoral vai produzir tantas incertezas quanto espertezas para 2024. É cedo para ressentimentos e mágoas. Sigo o pensamento do Barão de Itararé: “Não nos queixemos de certos homens públicos pela sua arrogância, rudeza, egoísmo, vaidade, esquecimento. É a sua índole. Irritar-se com ele é como se irritar com o fogo porque queima ou com o cão porque morde”. La Bruyère, descendo numa sessão espírita lá em Mangabeira, afirmou que: “O demônio poder citar a Bíblia em proveito próprio”. Mas, grassa no Rio Grande do Norte, o entendimento de que “Os vícios são virtudes enlouquecidas”. Principalmente os eleitorais e administrativos. Na vida pública de hoje, não é à toa se dizer que cada político haverá de morrer agarrado a sua angústia. Está em curso um processo depuratório.
Garimpo o pensamento filosófico de que “O ser humano não só morre quando desencarna. mas também quando se desencanta”. E o povo? Bem, hoje, ele não é mais um detalhe... Graças a Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário