domingo, 26 de novembro de 2023

 

Nossa Senhora da Apresentação

Padre João Medeiros Filho

No dia 21 de novembro, celebra-se a solenidade da Apresentação de Maria Santíssima no Templo por seus pais Joaquim e Ana. A Bíblia não relata tal acontecimento, chegado até nós por meio dos escritos apócrifos, como no Evangelho de Tiago. Este episódio da vida de Nossa Senhora despertou o interesse dos cristãos e de artistas plásticos, surgindo daí várias obras sobre o tema. A Igreja dos primeiros séculos ressaltava a figura e a missão da Corredentora. A tradição cristã e descobertas arqueológicas atestam que a Mãe Celestial era reverenciada na liturgia, desde os tempos apostólicos. O fato é registrado por desenhos e pinturas da Virgem de Nazaré, encontradas nas catacumbas romanas. Desde os primórdios do cristianismo, os fiéis veneravam a Mãe do Senhor. Em 62 A.D, junto com uma efígie de Cristo Bom Pastor, deparou-se com inscrições da Ave Maria, indicando que as primeiras comunidades cristãs rezavam essa prece. Daquela época, data um afresco da Virgem, descoberto na Catacumba de Santa Priscila, no qual Ela aparece amamentando o Menino Jesus. Em 451, foi localizada a imagem mais antiga da Mãe de Cristo, atribuída a São Lucas. Mostra Nossa Senhora com a Criança no colo.

No Oriente, a partir do século IV, desenvolveu-se a piedade mariana. Junto com a edificação de templos, iniciou-se o culto às imagens e aos títulos marianos. Desde então, os ícones em sua memória tornaram-se inspiração de talentosos mestres e presentes em muitos locais. Os fiéis guardavam-nos em suas residências e os monges nas celas. Os anacoretas acendiam velas diante deles. Eram levados às prisões para dar força e paz aos apenados. No Ocidente, desde o século VII, celebra-se a festa da Apresentação no dia 21 de novembro, rememorando o aniversário da dedicação da Basílica de Santa Maria, no ano de 543, em Jerusalém. Entretanto, a festa foi oficialmente criada por Gregório XI, em 1372. Em Avignon, os sumos pontífices já celebravam a missa solene da festividade. No Brasil, segundo Frei Agostinho da Beata Virgo, citado por Luís da Câmara Cascudo, a primeira paróquia dedicada a esse orago mariano foi erigida em 1599, na cidade do Natal (RN).

Maria é a mais venerada pelos brasileiros, dentre todos os santos do catolicismo. Amada com afeto filial, faz-se o destino de muitas súplicas, desejos e esperanças dos fiéis, mormente dos que sofrem. A expressão de nossa religiosidade revela-se fortemente na devoção mariana. É inegável o vínculo de permanência na fé. O amor à Virgem apresenta-se em todas as regiões e classes do país, sob muitas manifestações. A base da fé de nossa gente tem a ver com a piedade à Rainha Celestial. São terços, ofícios, orações, benditos, ladainhas, procissões, coroações e inúmeras maneiras de externar a sua crença. O culto mariano não se ensina nos livros. Transmite-se pelo testemunho das comunidades. A participação nos tríduos, novenas e outras comemorações alimenta a religiosidade, penetrando na vida das pessoas. No Brasil, a veneração a Nossa Senhora não se reveste de esquemas e conceitos intelectualizados, mas de sentimentos profundos que brotam da alma do povo.

Maria é expressão da benevolência divina. Pela intercessão da Virgem Santíssima, plena de graça, o Pai não nos abandona à própria sorte. Ela é uma prova de que o Onipotente não se arrependeu de ter criado o ser humano. Foi a Mulher escolhida pelo Altíssimo para sacrário corporal e terreno de seu Filho. Sendo Genitora do Salvador, contempla Deus Pai sem cessar com o seu sacratíssimo olhar. Maria de Nazaré é também nossa Mãe, por livre vontade de Jesus (cf. Jo 19, 26-27). E como tal, é nossa permanente intercessora junto a Cristo. Não se pode viver sem o carinho materno, por isso o nosso Redentor quis legar-nos Maria, face temporal do Divino. Sua ternura continua a se oferecer a cada um dos filhos. Ela poderá atenuar nossas saudades do Céu, uma vez que também esperou por Aquele que nos trouxe a vida e a paz. Privilegiada, teve o Salvador em seus braços. Ela acalentar-nos-á sempre nos momentos de desânimo, com um afetuoso sorriso e um meigo olhar de Mãe. “Bendita és entre todas as mulheres” (Lc 1, 42).

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