As relíquias de Sant’Ana
Padre João Medeiros Filho
Segundo documentos eclesiásticos e uma tradição carolíngia, os restos mortais de Sant’Ana foram trazidos para a Gália por discípulos de Jesus. Nos albores do cristianismo, seguidores do Nazareno foram expulsos da antiga Palestina por causa de sua fé. Levaram o corpo de Ana para Apta Julia (Apt), no sul da França. Urgia igualmente proteger as relíquias dos santos, quando da perseguição aos cristãos, no Ocidente. Por isso, os restos mortais da avó do Salvador foram inumados na cripta de uma igreja. É o que atesta “O Martirológio de Apt”. Trata-se da fonte mais antiga, mencionando o fato. Outra versão narra que os cruzados trasladaram da Terra Santa os restos mortais da genitora de Maria Santíssima, evitando que fossem violados pelos pagãos. Santo Auspicius, bispo de Apta Julia, teve o cuidado de salvaguardar esse tesouro sagrado, colocando-o em segurança no jazigo subterrâneo de uma igreja. Os ataques bélicos e o desgaste dos anos arruinaram as paredes do templo. Com isso, o lugar do túmulo foi ficando esquecido. Após a vitória de Carlos Magno sobre os sarracenos, no final do século VIII, a paz voltou a reinar na Gália. Construiu-se uma nova igreja sobre os escombros da primitiva, em Apt. As escavações depararam-se com estruturas fortalecidas. Conta-se que no domingo de Páscoa de 792, na cerimônia de dedicação do novo templo, as relíquias da Mãe da Virgem de Nazaré foram descobertas, graças a um menino surdo, mudo e cego. Durante a solenidade, a criança apontava insistentemente para o lugar da tumba na cripta, como se estivesse vendo algo. Tal relato consta dos documentos atribuídos ao Papa Leão III, aos quais se anexou um relatório eventualmente escrito pelo próprio Imperador, o qual fora coroado por aquele Pontífice. Conserva-se ainda cópia dessa documentação. Terminada a missa, Carlos Magno ordenou a escavação no local indicado pela criança. Removeram-se as escadarias atrás do altar, aparecendo uma porta lacrada com enormes pedras. Era a entrada da cripta, onde Auspicius costumava celebrar a Eucaristia. “O corpo de Sant’Ana, a mãe de Maria, está descansando ali”, palavras do menino que começou a falar, quando avistaram a sepultura. Diante desse acontecimento considerado miraculoso, a multidão presente na Igreja prostrou-se de joelhos. No ataúde havia uma inscrição: “Aqui jaz o corpo de Ana, a mãe da Virgem Maria.” As autoridades das principais cidades gaulesas e de outras nações apressaram-se em pedir à Igreja partes do corpo santificado. Fragmentos foram destinados a várias localidades (como Düren, na Alemanha), sendo doados por soberanos e prelados. Consoante informações, grande parte do corpo sagrado de Sant’Ana repousa em Apt, numa capelatúmulo construída por Ana da Áustria, Rainha da França. Clemente VII concedia indulgências aos peregrinos que ali acorriam. Os dignitários eclesiásticos atuais têm sido cautelosos em partilhar as relíquias, alegando necessidade de depurar os fatos, separando os verídicos dos lendários, para se comprovar ainda mais a autenticidade histórica. Partículas dos ossos espalhadas por vários países contribuíram para disseminar a devoção à mãe de Nossa Senhora. Hanna é muito estimada pelos judeus. Descendia do sacerdote Aarão, desposada por Joaquim, oriundo da família real de Davi. Dessa nobreza nasceu a Mãe do Salvador. As famílias real portuguesa e imperial brasileira dedicavam devoção especial à genitora de Nossa Senhora, a ponto de ser designada protetora da Casa da Moeda do Brasil. Sant’Ana é co-patrona do Rio de Janeiro e São Paulo, padroeira de Goiás, centenas de paróquias e do Seridó potiguar (onde viveram flamengos judeus e católicos lusitanos), bem como titular da sé episcopal de Caicó. Há tempos, uma fervorosa devota caicoense, tendo visitado algumas vezes Apt, tenta adquirir uma relíquia da “Senhora doce e clemente” para a catedral de sua terra. Diante do túmulo exclamou: “Creio que aqui está parte do corpo da avó de Cristo. Acredito que ela irá partilhar um pouco de si mesma para a veneração dos seridoenses.” Finalmente, rezemos à “Mãe da graça e do perdão” por nosso arcebispo emérito, Dom Heitor de Araújo Sales, no ensejo de seu 97º aniversário, em 29/07 próximo. Que ela o abençoe e proteja sempre. Em mais de setenta anos dedicados à Igreja, durante quinze, Dom Heitor cuidou do Povo de Deus no Seridó. “Salve, Sant’Ana gloriosa!"
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