quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 ARGONAUTAS POTIGUARES


Horácio Paiva *

Na manhã de 27 de julho de 2023  -  anunciadora da dádiva da chuva que não caiu  -, com música, poesia, saudação e aplausos, no pátio da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Macau foi a primeira cidade a acolher André Felipe Pignataro, Gustavo Sobral, Honório Medeiros e sua esposa Michaella Lima, argonautas do mar da História, que formavam a comitiva do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN, decidida a percorrer o mesmo caminho trilhado, em 1861, pelo então Governador Provincial Pedro Leão Veloso e sua equipe. 

Nomeado por D. Pedro II, Leão Veloso, que era natural do Maranhão, queria conhecer de perto a real situação em que se encontrava a então província, que passara a governar desde 17 de maio de 1861, e seu povo. Participava de sua equipe o historiador Manoel Ferreira Nobre, que mais tarde nos legou a sua “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte”, publicada em 1877 e considerada a primeira história do Rio Grande do Norte.

Macau, movida como sempre pelo espírito de vanguarda e emoção, prestou calorosa recepção aos novos e ousados argonautas que, com os olhos voltados ao passado, reescrevem a história e deixam um novo legado desafiador ao futuro.

Como anfitriões, encontravam-se eu, presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA, também membro do IHGRN,  e minha esposa Rosália Medeiros; Sebastião Alves Maia – Secretário-Geral da AMLA; Max Kennedy Costa Souza – Secretário de Cultura do Município de Macau; e, à frente da magnífica Filarmônica Monsenhor Honório, o Maestro Israel Gleidson Silva Santos.  
O comitê de recepção expressou à comitiva visitante suas boas vindas, com solidariedade e apoio, e a saudou com preleção, poesia e belos dobrados.

A poesia, escrita por mim, buscou homenagear a alma macauense, indo à origem histórica da cidade, à Ilha de Manoel Gonçalves, tomada pelas águas do Atlântico, com o êxodo, sobretudo na década de 1820, de sua população para a Ilha de Macau, ilha das araras vermelhas, onde sobreviveu...

“ILHA DE MANOEL GONÇALVES 
Se perguntarem por você
direi que você não mais existe
a Gamboa das Barcas virou mar

Mas em Macau há um retrato seu
uma cruz e uma espada
um veleiro e um santuário

E sempre haverá um berço
para acolher e embalar sonhos
de filhos pródigos, viajantes
e náufragos do tempo.”

Em seguida, visita à Igreja, sua beleza interior, com apreciação da histórica cruz de madeira trazida da ilha-mãe submergida, de suas imagens, de suas características arquitetônicas, da miniatura da Nau Navegantina, usada nas procissões marítimas.

Depois da emoção, a pausa para o almoço  -  o camarão, o peixe, a caldeirada, no Restaurante do amigo português “alfacinha” D. Pedro Diniz, próximo ao rio e à Matriz.

E na sequência, fotos  -  uma delas em frente à “Casa do Conde”, prédio “belle époque” e neo-clássico, futura sede da AMLA  -  e passeios, inúmeras visitas a pontos históricos, inclusive à Ilha de Camapum,  de onde pudemos vislumbrar o possível local da Ilha de Manoel Gonçalves.

Entretanto, duas coisas a lamentar: não ofereci aos ilustres visitantes uma pedrinha de sal, o que, segundo a crendice popular, dá sorte aos que visitam a cidade pela primeira vez; e, enfim, lamentei a saída dos amigos e confrades que se foram sem ver a Nau Catarineta, os Fandangos, o Coco de Roda  -  sob o ritmo dos originais tamancos de madeira  -, as Lapinhas e Pastoris, a procissão marítima de Nossa Senhora dos Navegantes, coberta de fogos de artifício, os velhos carnavais, que já foram os melhores do Rio Grande do Norte  -  pérolas de nossa tradição que, como os sons encantados dos martelos dos calafates,  à aragem sumiram do vento leste... 
 

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(*) Horácio de Paiva Oliveira  -  Poeta, escritor, advogado, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN, da União Brasileira de Escritores do RN e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA.

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