FOLHAS DE OUTONO
Valério Mesquita*
Os políticos favoráveis ao processo de reeleição jamais conseguirão
manter o seu verdadeiro disfarce. Não sabem que o vício do poder esmaece com o
tempo. Quem vai ganhar eleição futuramente é a nova postura. A coragem de
quebrar os velhos tabus e a promiscuidade de relação antiga entre governo e
deputados, prefeitos e vereadores. A palavra luta não pode mais continuar como
sinônima de roubalheira. O povo exige mudanças de caras, de cartolas, de caretas
e picaretas. Continuísmo no poder executivo é uma questão de caráter para o
eleitor, o cidadão e o brasileiro.
O não à reeleição é uma questão de patriotismo, com o fim de preservar e
defender o povo contra a ditadura do partidarismo, do personalismo. Alguns
deles se comportam como bandos de interesses egoísticos guardados por leis
casuísticas e milícias de cargos comissionados. Só em Brasília os partidos
majoritários detêm nas mãos mais de vinte e cinco mil cargos comissionados há
cerca de dez anos. A reeleição de gestores com a bunda na cadeira patrocina o
desgaste do patrimônio público e a queda da economia por causa das obras
eleitoreiras com o fito de reeleger o inquilino. Obras insensatas e sem o
devido equilíbrio orçamentário e falso planejamento.
O regime democrático é caro e lento. O seu organismo é corroído de
chagas protagonizadas por carnavalescos do “mamãe eu quero mamar”. Se não há no
mundo nada inventado pelo homem que o tempo não destrua, o instituto da
reeleição – que vem da época de Fernando Henrique Cardoso – já cumpriu a sua
validade e exauriu os absurdos e abusos cometidos, à nível nacional, estadual e
municipal. Provou que tudo foi comércio e fantasias saciadas. O político
brasileiro, não absorveu ao longo do tempo status cultural e não se capacitou
para o exercício do mandato único. Faltou maturidade dos seus atores e atrizes.
É preciso deflagrar um renascer criterioso na forma e no conteúdo da gestão
pública. Gustave Flaubert, ante a estupefação da sociedade francesa de sua
época, com as aventuras e desventuras da sua personagem Madame Bovary,
desvendou o mistério – que é o mesmo do privilégio da reeleição – “Madame
Bovary sou eu!!”, disse de si próprio o célebre escritor romancista.
É preciso pôr um basta ao processo da reeleição pela busca do
reavivamento dos métodos e costumes que venham moralizar o político e o país. A
reeleição de candidatos a postos executivos induz ao nepotismo, ao
favorecimento ilícito, à competitividade desigual e a imoralidades dos usos e
desusos sociais e oficiais. Os candidatos às eleições, devem incluir em suas
agendas e discussões na rede de comunicação eleitoral, o seu comprometimento
com o fim da reeleição para o executivo sob pena de ser identificado facilmente
no bloco das facções criminosas. É tempo de desmame! Não devemos desistir de
acabar com essa corrução. Reeleições para a presidência, governos estaduais e
prefeituras são folhas de outono que trazem desencanto e desilusão para o povo
brasileiro.
Por outro lado, existem prefeituras que se fortaleceram tanto, política
e economicamente, alimentadas fortemente pela facilidade da moeda
político-eleitoral denominada “emenda parlamentar”, que hoje se constituem em
verdadeiras cidadelas, feudos, bastilhas, símbolos do absolutismo familiar. Aí
o nepotismo campeia. E, no entanto, foram poupados pela legislação como se já
não bastasse a permissividade da reeleição. De que adianta a propaganda oficial
veiculada constantemente na televisão que pede ao eleitor a renovação na
escolha do candidato, a insubmissão ao voto comprado e que recuse a chantagem
eleitoral de qualquer natureza?
(*) Escritor.
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