quarta-feira, 28 de março de 2012


A verdade sobre o Forte dos Reis Magos.

Livro de Veríssimo de Melo confirma que Forte não foi obra de padre
Texto de Luiz Gonzaga Cortez.

A presidente da Fundação José Augusto, a assistente social e ex-professora da ESAM, Isaura Amélia Rosado, em entrevista concedida à jornalista Hayssa Pacheco, do Diário de Natal, anunciou hoje a instalação de uma “exposição histórica sobre a Fortaleza dos Reis Magos, quer vai contar a história do Forte”. Muito boa a iniciativa, mas será melhor, ainda, se a FJA procurar enfocar os autores e documentos que divergem da versão oficial sobre a autoria do projeto de sua construção, atribuído ao padre Gaspar de Sam Peres (ou Gaspar de Samperes?), um sacerdote jesuíta responsável por uma tosca, grosseira e inútil obra na boca da barra do rio Potengi. O que o referido padre fez mesmo foi obrar, pois o que “projetou” não agüentava nem um tiro de espingarda de soca. A Fortaleza dos Reis Magos foi desenhada e construída pelo Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil, que acompanhou e fiscalizou, pessoalmente, todas as etapas dos serviços. Eu não sou o primeiro a escrever sobre Frias, não. Hoje, 16 de dezembro de 2006, tenho em mãos um exemplar do “Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande do Norte”, de Veríssimo de Melo, editado pelo Conselho Estadual de Cultura-RN (Natal, 1976), que, na página 29, registra o seguinte: “6.1.1598 – Inicio da construção da atual Fortaleza dos Reis Magos, obra do engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, sendo concluída entre 1614 e 1619”. Eis aí um “gancho” para os jornalistas e pesquisadores sobre as fontes que Veríssimo de Melo utilizou para escrever o seu calendário cultural e histórico.
Mas os folcloristas e historiadores do Rio Grande do Norte continuam escrevendo que foi o padre Gaspar quem construiu o forte.
Até hoje não encontrei os motivos para se omitir fontes bibliográficas brasileiras e portuguesas sobre o Forte dos Reis Magos, em Natal, considerado um dos principais pontos turísticos da capital.
Aqui, nos últimos anos, foram publicados vários livros e estudos sobre esse monumento histórico, inclusive “atlas” , mas continuam repetindo as velhas lorotas, de que a atual fortaleza foi projetada pelo padre Gaspar de Samperes.
Mas se acham que foi o Padre Samperes que construiu a fortaleza dos Reis Magos é porque não querem buscar fontes fidedignas e sérias que existem há muitos anos. Vou citar duas fontes, uma escrita e outra da Internet .A primeira é o Volume 9, de 1945, páginas 9 a 84, da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, edição do antigo Ministério da Educação e Saúde, que publica ensaio sobre “Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil”, de autoria de D. Clemente Maria da Silva-Nigra. O. S. B. Se o leitor acessar o sítio www.funceb.org.br vai encontrar mais informações a respeito ou ir direto a www.funceb.org.br/revista9/06_Frias-da-Mesquita.pdf. Lá, vocês vão saber que o padre Gaspar de Samperes fez o 1º projeto da Fortaleza dos Reis Magos, mas a atual edificação foi desenhada e executada diretamente por Frias da Mesquita. Na página 23 do ensaio de D. Clemente, quando se refere à fortaleza de Cabedelo, Paraíba, outro projeto de Frias, o autor escreveu o seguinte: “Semelhante à Reis Magos, a fortaleza fora construída com material precário; fabricada de huas (duas) taipas fraquíssimas em area solta, sem modo ou regra algua de fortificação pelo q não podia resistir a qualquer encontro de inimigos”. Em resumo, era uma construção feita de duas paredes de taipa, nas dunas (areia solta), que não tinha nada de fortificação militar. Compare a descrição de “duas taipas” para a magestosa fortificação de hoje, com corpo da guarda, prisões civis, calabouço militar, almoxarifado, depósitos, quartéis, cisternas, subidas para as baterias, prisões subterrâneas, casa do comandante, cozinha, estado-maior, capela e farol. O padre Samperes deixou uma tapera que não agüentaria um tiro de espingarda de soca. Frias da Mesquita deixou uma construção feita com cal, pedra e azeite mais forte, que substituiu o casebre de pau,barroepalha.
O PhD em arquitetura Augusto C. da Silva Telles, graduado em 1948, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro é o autor do texto do texto sobre os fortes das costas brasileiras projetados, desenhados, justificados (manuscritamente) e executados pelo engenheiro Francisco de Frias da Mesquita. Dr. Telles assegura que o governador D. Diogo de Menezes contratou o arquiteto português para construir o forte Natal, pois “o primeiro projeto foi projetado pelo padre jesuíta Gaspar Samperes, segundo Frei Vicente do Salvador, mas anos depois deteriorou-se”, antes de 1614, e que a edificação de Frias “ainda se conserva no local, próximo da cidade de Natal”. Augusto Telles, na extensa bibliografia, cita Gaspar Barléus, Vitterbo Souza, Silva Nigra, Diogo de Campos Moreno, Francisco Adolfo Varnhagen, Frei Vicente do Salvador e Pedro Calmom, entre outros. Frias da Mesquita construiu os fortes da Laje (Recife), do Mar (Salvador), São Diogo (Salvador), São Mateus (Cabo Frio-RJ), São Felipe, São Francisco e São José(São Luís do Maranhão), Santa Catarina (Cabedelo-PB), além de igrejas e mosteiros noBrasil.
Não acredito que o arquiteto Augusto C. da Silva Telles esteja equivocado.Creio que os folcloristas potiguares estão incorretos sobre a autoria do projeto e que a FJA poderia se aprofundar nas pesquisas pertinentes, examinando as anotações de Francisco de Frias da Mesquita, publicadas no volume 9 da revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de 1945. Eu tenho um exemplar da revista, apesar de parcialmente danificado, mas são boas as reproduções das anotações de Frias sobre a Fortaleza dos Reis Magos. Você duvida? Ou você quer continuar com a mania estalinista de adulterar e distorcer os fatos históricos?
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*Jornalista e pesquisador
Fonte: Google. Artigo escrito em 2006.
(Artigo publicado em jornais de Natal e no blog candelariaeasuarealidade.blogspot.com)

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