GREVE NAS POLÍCIAS MILITARES
A sociedade brasileira assiste preocupada à ebulição de acontecimentos perturbadores da ordem e da segurança pública decorrentes de reivindicações salariais por parte daqueles que a deveriam proteger, sendo oportuno questionar o cerne do problema que não se limita a um único estado federativo.
A questão toma dimensões maiores à medida que envolve instituições organizadas com base na hierarquia e na disciplina e que, tradicionalmente, respeitam a ordem jurídica existente, sendo fácil simplificar atribuindo-se os lamentáveis episódios ocorridos a ações de elementos mal formados, mas com liderança na caserna.
Difícil e triste é aprofundar a análise e constatar que a maior causa é a conjuntura política nacional onde são raros os exemplos de justiça, dedicação e seriedade no trato da coisa pública e de dignidade, honestidade e competência no exercício dos mais elevados cargos, enquanto abundam os enriquecimentos ilícitos de detentores de mandatos, de operários da justiça e de membros do staff governamental, aproximando o brasileiro comum da situação indesejável de cidadão inferior envergonhado de sua estagnação por querer ser honesto e obrigado a ser trabalhador. Não é exagero assim pensar se nos lembrarmos que aos privilegiados, próximos do poder, não lhes falta criatividade para a garantia de remunerações condignas, tal como menor tempo de jornada de trabalho, benefícios específicos, vantagens pecuniárias diversas, assistência médica pronta, geral e irrestrita, revisão salarial anual, generosa e sem delongas, e tantas outras. Junte-se a isso a demagógica e irresponsável fixação de um piso salarial de R$4.000,00 para soldado da Polícia Militar do Distrito Federal, embora pago pela União, incompatível, segundo é proclamado, com a realidade econômica do governo federal e com a estrutura federativa, mas facilmente previsível como geradora de pleitos de igualdade salarial nas outras congêneres, além de um evidente descaso com as Forças Armadas, postas em situação de inferioridade.
É fácil reprimir quando se tem a competência legal do emprego da força, mas difícil é governar para todos e não apenas para partidos e/ou pequenos grupos, buscando-se, com oportunidade, sinceridade e determinação, a aplicação da justiça à nação por inteira, sem a criação de cidadãos de segunda classe.
O ser humano é produto do meio em que vive e não nasce violento. Se o meio se esgarça, tornando-se impuro e injusto, consequências indesejáveis hão de surgir.
(Gen Ex José Carlos Leite Filho – linsleite@supercabo.com.br – 10/02/12)
(Publicado no “O Jornal de Hoje”, de 11/02/12 – Natal-RN)
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