domingo, 19 de fevereiro de 2012

Fantasia
Carlos de Miranda Gomes

Retirada do sacrário da saudade
Encontrei ao sol do quarto a minha fantasia
Brilhando nos 50 anos de alegria
Do velho folião desta cidade.

Deliciosos na Folia era o seu nome
Do bloco do carnaval daquele tempo
Que alimentava de ilusão e contentamento
Os sonhos que a vida não consome.

E o velho repete ao jovem de antanho
A lembrança viva dos momentos de encanto
Que chegou na exata hora de aliviar o pranto.


E TOME CARNAVAL!
para todos os gostos







 O OUTRO CARNAVAL
Carlos Drummond de Andrade

Fantasia,
que é fantasia, por favor?
Roupa-estardalhaço, maquilagem-loucura?
Ou antes, e principalmente,
brinquedo sigiloso, tão íntimo,
tão do meu sangue e nervos e eu oculto em mim,
que ninguém percebe, e todos os dias
exibo na passarela sem espectadores?


Carnaval de Sonho –
Braguinha,

Sonhei, sonhei, sonhei
E num mar de fantasias mergulhei
Copacabana, oh linda lourinha
As pastorinhas, o pirata da perna de pau
Vai com jeito Chiquinha Bacana
As touradas em Madri
O Carinhos, China Pau
Fim de semana em Paquetá
Onde o céu é mais azul
São partes de poesias tão marcantes
Deste poema tão brilhante
Do Carnaval de Norte a Sul


Delirei, vi confetes, mascarados e serpentina
Numa explosão de cores
Palhaços, pierrôs e colombinas
Quarta-feira pelas ruas da cidade
Só restaram pedacinhos de saudades


Bloco da Solidão
Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Angústia, solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai, meu bloco vai
Só deste jeito é que ele sai
Na frente sigo eu
Levo um estandarte de um amor
Amor que se perdeu
No carnaval lá vai meu bloco
E lá vou eu também
Mais uma vez sem ter ninguém
No sábado e domingo
Segunda e terça-feira
E quarta feira vem
O ano inteiro é todo assim
Por isso quando eu passar
Batam palmas para mim
Aplaudam quem sorri
Trazendo lágrimas no olhar
Merece uma homenagem
Quem tem forças pra cantar
Tão grande é minha dor
Pede passagem quando sai
Comigo só
Lá vai meu bloco vai
Laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá
Lalaiá, lalaiá
Laiá
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COMENTÁRIO RECEBIDO:

À NOITE, SOB AS MANGUEIRAS
Ciro José Tavares •

“É uma hora diferente,o intervalo entre o dia e a noite,
quando o tempo pára e examina a si mesmo.”
John Steinbeck, in Cannery Row

Não bastasse o processo de abandono dos seus pontos tradicionais, historicamente ricos,a cidade silencia quanto às figuras humanas, impondo-lhes impiedosa pena de esquecimento.E no momento dessa festa, fora de época e de propósito, lembro-me de Os Deliciosos na Folia, inesquecível ícone dos carnavais de outrora. Conheci o bloco na década de cinqüenta, menino de calças curtas, beirando os 13 anos. As reuniões e ensaios eram no sítio de D. Toinha, esquina da Jundiaí com Prudente de Morais, hoje de propriedade da Telern.O espaço chamava à atenção pelas árvores frondosas, protegendo sua única e nada bizarra habitação. Não sei quais os papéis que D. Toinha e seu filho Omar, que fazia parte do bloco, desempenhavam no meio daquele terreno. A verdade é que, aproveitando a quietude da bondosa senhora e sob seus olhares complacentes, alguns estranhos à família tinham inteira liberdade, sobretudo nos derradeiros dias antes da festa, quando o entra-e-sai fazia-se mais intenso, com a chegada de adereços, novos instrumentos de, sopro e percussão,grades de garrafas de Olho-d’Água, tudo mostrando, a exemplo da simplicidade das fantasias, o grau social da rapaziada.

Depois do jantar, pelas 7,30 h, eu encostava para sapear o ensaio, sentado numa pilha de tijolos inaproveitáveis, distante o bastante para ouvir recomendações e observar movimentos. Sob a luz lavada da gambiarra improvisada, puxada da fiação do alpendre da casa e suspensa num galho de mangueira, a figura franzina e paciente de Airton Ramalho comandava a bateria, que ganhava força na marcação do surdo de Ronaldo Ferreira, nos repiques do tamborim de Fernando Leite e na sonoridade angustiada da cuíca de Luis Meirelles.

Era eletrizante, na medida em que as músicas, misturadas ao ritmo, explodiam na voz dos componentes.Embora esquecidas, duas ficaram nas minhas lembranças. A que enaltecia Augusto Severo, o Padre João Maria e Ferreira Itajubá e a antológica Pio X, o adeus à praça amada por minha geração e que se encantou com a construção da nova Catedral.

“Praça, o teu nome vou guardar”.

“Breve, tu serás a Casa de Deus.”

Minha mãe sabia do meu paradeiro e ainda assim D. Toinha, que a conhecia, alertava: “menino, olha a hora”. E eu escapava, passos rápidos, atravessando o escuro para alcançar a casa da rua Assu. Mergulhado nos travesseiros adormecia ouvindo o batuque que avançava pela noite parecendo não terminar, enquanto no pensamento desfilavam as evoluções de Betinho apresentando o estandarte.

• advogado e escritor (ciroitaca@terra.com.br)

Um comentário:

  1. De repente veio à memória uma marchinha que representava o bloco Deliciosos na Folia. Não sei o autor e se a letra está correta. APELO PARA A CORREÇÃO DE ALGUM LEITOR:

    "Novamente chegou
    Deliciosos na Folia
    trazendo para todos a alegria
    que Natal já consagrou.

    Ele nasceu há dez anos atrás
    e continua mantendo o seu cartaz
    salve,salve o reinado da alegria
    Aqui estão Deliciosos na Folia. ????

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