quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

OUTRAS CARTAS DE COTOVELO 10

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, advogado e escritor

No início deste mês registrei o meu reencontro com Cotovelo e, logo no primeiro dia, a prazerosa visita de Zé Correia (Zequinha), tradicional morador da Rua Parnaíba.

A meninada, como sempre, se soltou na buraqueira, sabendo aproveitar bem os regalos do veraneio. Os adultos, nem tanto.

As boas conversas noturnas, o baralho, dominó, bola, DVD, música e rádio complementaram nosso lazer.

O barulho do Circo da Folia não foi tão grave como no ano anterior, mesmo assim a Lei do Silêncio não foi respeitada– há muito dinheiro em jogo. O inferno, de qualquer forma, se instalou nos finais de semana, com filas intermináveis de veículos com destino a Pirangi, em permanente businaço, intercalado de carros do som em decibéis proibitivos, mas nem por isso incomodados por qualquer autoridade da fiscalização do meio-ambiente.

A geografia física modificou muito aquele lugar bucólico de outrora. Agora tem abastecimento de tudo e estamos cercados de edifícios e condomínios fechados. A Promovec não funciona mais, distanciando os veranistas daqueles dias festeiros e contemplativos. Contudo, não tivemos registros de arruaças, roubos, assaltos e os filhinhos do papai não desfilaram na beira da praia com motos ou quadricíclos. Parabéns para a Polícia. Aliás, o posto policial na sede da Promovec e de ambulância do Samu deram conforto e segurança aos veranistas.

Aqui no meu pedaço de Cotovelo velha, a geografia humana permanece quase inteirinha – da Rua Parnaíba perdemos Seu Chico e Fernando; se mudaram Noel e Rosalvo, mas ganhou D. Léa que nos abastece do pão de cada dia e a minha vizinha D. Socorro, que cultiva o bom costume de manter a rua limpa.

O luar de Cotovelo continua lindo. Menos cadeiras na calçada, é verdade, pelo mêdo da atual circunstância da segurança pública no Estado. As caminhadas matinais e ao cair da tarde foram reconfortantes.

Visita de amigos e parentes para um papo descontraído ou rememoração de tempos bem vividos, sempre regado a um wisky, água de coco ou um cafezinho com tapioca de D. Helena ou o pão de D.Lea.

De vez em quando um churrasco feito por Ernesto.

Jornais e TV nos acompanham na modernidade, diferentemente dos saudosos veraneios na Redinha, com gerador funcionando até às 20 horas, depois cada um que se virasse.

O que não muda no tempo é o chamamento da danada da preguiça, que permite reciclar o corpo velho cansado, confirmando o verso do vate pernambucano Ascenso Ferreira:

Hora de comer – comer!
Hora de dormir – dormir!
Hora de vadiar – vadiar!
Hora de trabalhar? Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Diariamente a missão de atualizar o meu blog, sob qualquer motivação, seja o do retorno do meu beija-flor, da insegurança em Alcaçuz, o tempo do rádio ou no embalo do que vier à cabeça.

Comemoramos os aniversários de Rosa Ligia e Fernandinho (neto), na casa de D. Ieda, com a relembrança de Fernando; ouvimos boas músicas de antanho ‘Arranha Céu’ e ‘Vestido das Lágrimas’, ‘Só nós dois no salão (e esta valsa)’, ou o terrível “Delícia, delícia, assim você me mata” – mata o veio!

A história da música escolhida por Rosa em seus quinze anos teve repercussão em mensagens recebidas. A propósito, no blog, uma mensagem do amigo Didi Avelino, que este ano não pôde passar aqui em Cotovelo.

Fizemos comentários sobre a diferença fundamental entre a casa de veraneio e a casa da cidade. Naquela reina a informalidade em todos os sentidos, pés descalços, cabeça descompromissada com a realidade da cidade grande, pois toda a leitura feita é encarada com maior reflexão e assimilada com uma seriedade meditativa. A cidade só reclama obrigações.

Chegou a hora. Adeus vou-me embora, vou ver agora ... o que querem de mim em Natal! Até o próximo veraneio. FUI!

(26/01/2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário