domingo, 6 de novembro de 2011

O mar - poemas e poetas
 Privilégios do mar
(Carlos Drummond de Andrade)

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.


O edifício é sólido e o mundo também.


Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.


O mundo é mesmo de cimento armado.


Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!


Podemos beber honradamente nossa cerveja.


Mar
(Vinicius de Moraes)

Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar.


Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio.


E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte.

 
Mar e Lua
(Chico Buarque de Holanda)

Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amarraram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar


E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua.
E que continua correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

 
Canção
(Cecília Meireles)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
________________________
Publicado por Leonardo Schabbach em 29/06/2009.
Categoria(s): Poemas de Cecília Meireles

O Navio Negreiro, Tragédia no Mar (VI)
(Castro Alves)

Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...


Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

 
Mar morto
(Zila Mamede)

Parado morto mar da minha infância
Sem sombras nem lembranças de sargaços
Por onde rocem asas de gaivotas
Perdendo-se num rumo duvidoso.


Pesado mar, sem gesto, mas sem ânsia,
Sem praias, sem limites, sem espaços
Sem brisas, sem cantigas, mas sem rotas,
Apenas, mar incerto, mar brumoso.


Criança penetrando no mar morto
Em busca de um brinquedo colorido
Que julga ver no morto mar vogando.


Infância nesse mar que não tem porto,
Num mar sem brilho, vago, indefinido,
Onde não há nem sonhos navegando.
__________________
Rosa de Pedra, DI,1853/1986


O mar
(Dorival Caymmi)

O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito
O mar... pescador quando sai
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito


Pedro vivia da pesca
Saia no barco
Seis horas da tarde
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todas
Rosinha de Chica
A mais bonitinha
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá


Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite
Não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá


Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece
Que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Andando rondando
Dizendo baixinho
Morreu, morreu, morreu, oh...


O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito...


É doce morrer no mar
(Dorival Caymmi)

É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar (bis)


A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza prá mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi prá mim
É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar (bis)


Saveiro partiu de noite foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou


É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar (bis)


Nas ondas verdes do mar meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá


É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar (bis)
_____________________
Fontes: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=144807#ixzz1cV7rprEW
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