quinta-feira, 22 de setembro de 2011

FLAGRANTES DO LANÇAMENTO, ONTEM, DO LIVRO "Letras & imagens do BEM", organizado por Flávio Rezende, Presidente da "CASA DO BEM"
Participaram do trabalho 55 escritores e, entre eles, prestei a minha solidariedade com o artigo em seguida reproduzido:

OS ANOS DOURADOS EM NATAL

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, professor e advogado.

Era uma vez um tempo de pardais no verde dos quintais, como diz o poeta: assim foi NATAL nas décadas de 1950/1960.

Na placidez de sua escultural beleza, clima ameno, população que não ultrapassada os 250 mil habitantes, o adolescente de Natal viveu verdadeiramente anos dourados.

Num bonde havia um anjo pra guiar, até a chegada do progresso e dos primeiros lotações, que tomaram o seu lugar na paisagem.

Cotidiano alegre e seguro, ansiado pelo findar da semana, a partir da “série” do cinema São Luiz, o Vesperal dos Brotinhos de Luiz Cordeiro na Rádio Poti, do Domingo Alegre de Genar Wanderley, do Turbilhão de Novidades de Jaime Queiroz e Vanildo Nunes, dos fãs clubes de Paulo Silva e Rinaldo Calheiros. Desse tempo foram os meninos prodígios Agnaldo Rayol, Carlos Gomes, Edmilson Avelino, Odúlio Botelho e José Filho, espelhos de Paulo Molin, consagrado cantor pernambucano, falecido em Quaxupé-MG em 2004.

A orquestra de Julio Granados comandava as atrações internacionais de Los Mexicanitos, Roberto Galã, Frei Monjica, Orquestra Cassino de Servilha, Cuquita e até o célebre Tito Schippa esteve aqui. Ainda, dos mitológicos Luiz Gonzaga, Déo, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Orlando Silva, Sílvio Caldas – a quem fui apresentado por Raimundo do cartório e me fez perder a fala - Augusto Calheiros, Alcides Gerardi, Nelson Gonçalves e os novos fenômenos Ângela Maria e Caubi Peixoto, além de muitos outros que fizeram enorme sucesso. Vimos nascer os Trios Yrakitan, Marayá e Nagô (este de Fortaleza).

O velho Juvenal Lamartine era uma pedida magnífica para se ver ABC, América, Alecrim e Santa Cruz e os ídolos Gerim, Ribamar, Toré, Biró, Artêmio, Barbosa, Pernambuco, Tico, Paulo Izidro, Jorginho – o melhor de todos e tantos mais extraordinários astros da pelota que despontavam como Wallace, Saquinho, Cocó, na narração vibrante de Aluízio Menezes, que está nos devendo um livro sobre o assunto.

Os passeios no Potengi, nas ioles do Centro Náutico e Sport ou nos batelões e canoas alugados na Pedra do Rosário.

Os domingos e a sessão das 14 horas no Rio Grande ou no Rex, a matinée do América e os bate papos nas ruas e no Grande Ponto, nas sorveterias, comendo as cartolas da Casa Costa, comprando os cigarros estrangeiros ou do Rio vendidos por Valdir, um cafezinho no São Luiz ou Café Maia ou uma cerveja na Cisne, Nemésio ou no Dia e Noite.

Que saudade das peladas de bairro, o campo do Cruzeiro, o Goiabão do Barro Vermelho, a rivalidade dos times de Moacyr – o do Machadão e do primo Clóvis Gomes ou as disputas com visitantes, tudo terminando em cerveja!

As aventuras de fumar escondido e jogar sinuca na Rua Dr. Barata, de portas fechadas por causa do Juízo de Menores; o deleite da vitrine da loja 4.400 no caminho do Cais Tavares de Lira, passando na agência pernambucana de Luiz Romão – o dono das lanchas da Redinha, para comprar Gibi ou Guri mais novo (cuja coleção conservo até os dias atuais).

Praias maravilhosas, sem poluição, de preferência Ponta Negra do morro do Careca, os passeios proibidos ao Rio Doce na Redinha, o poço do dentão da praia do Meio – um perigo permanente, da Circular, no balneário de Seu Raimundo, um ex-combatente forte, que alugava calções e guardava nossa roupa – nem sei se era esse mesmo o seu nome, pois as prateleiras da memória (como dizia João Machado) já começam a criar teias de aranha.

As festas natalinas e juninas de Djalma Maranhão, o carnaval dos Bacurinhas, Jardim da Infância, Deliciosos na Folia (onde eu brincava), Azes do Ritmo (nossos maiores rivais), os Cafajestes, Imperadores do Samba, Aí Vem a Marinha, com confetes, serpentinas e lanças-perfume, corso na Rio Branco, depois na Deodoro e tudo mais, além dos inesquecíveis bailes do Aero e América. As tribos de Índios do Alecrim e Quintas, que faziam medo à meninada!

A rivalidade das bandas marciais do Atheneu, Marista, Escola Industrial, 7 de Setembro e Ginásio Natal (da qual eu tocava tarol). Os namoros da Praça Pio X, a Missa aos domingos, as festas da Padroeira, da Mocidade ou Juventude de Zé Garcia.

Paro por aqui, pois uma lágrima atrevida e não bem-vinda, parodiando o monólogo de Ivon Curi, já incomoda os meus olhos.

Sei que vou dormir hoje na plenitude da paz, mas com o ranço da saudade.

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Do livro: Letras & Imagens do BEM – Org. por Flávio Rezende. EDUFRN, 2011.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo belíssimo texto, que transborda poesias e saudades que não declaram a idade.
    Parte do que foi narrado, eu vivenciei e faz parte do meu aprendizado de vida, e tal qual, o grande poeta chileno Pablo Neruda, ouso afirmar "Confesso que vivi", e ainda parafraseando Ataufo Alves, completo: "eu era feliz e não sabia".
    Abraços amigo Carlos Miranda Gomes, parabenizo-o também, pelo excelente blog que comandas, repleto de peças literárias, notícias, novidades culturais e poesias de excelente nível.
    Fico a vontade, para agradecer ao amigo, a postagens de algumas peças poéticas minhas, aqui nesse espaço, estou a disposição repleto de vontade de servir a literatura potiguar, na minha modesta e simples contribuição.
    Abraços fraternos e paz, harmonia e amor para o mundo, que é o que necessitamos.

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