quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 

Domingo dos Pais

Padre João Medeiros Filho

No Brasil, celebra-se o Dia dos Pais, no segundo domingo de agosto. O sentimento de paternidade está no âmago da doutrina cristã. Jesus incluiu em sua mensagem central a figura do pai, desvelada do mistério trinitário. Ele procurou dar consciência dessa realidade e transmitiu uma religião paternal. Quando os apóstolos Lhe pediram que lhes ensinasse a rezar, assim se expressou: “Quando orardes, dizei: “Pai, santificado seja teu nome” (Lc 11, 1-2; cf. Mt 6, 9-13). Nesta oração, as primeiras súplicas são voltadas para a necessidade de reconhecer Deus, que nos gerou para a vida em plenitude. O apóstolo Paulo assevera-nos de nossa filiação divina, ao lembrar na Carta aos Romanos: “Recebestes o espírito da adoção filial” (Rm 8, 15). A cultura bíblica veterotestamentária alçava a condição paterna do homem, próxima do sagrado e divino. O código de ética religiosa, contido no Decálogo, estabelece o respeito devido aos pais, logo após enunciar os deveres com o Onipotente e antes de enumerar nossas obrigações com os semelhantes. “Honra teu pai” (Ex 20, 12), aconselha o Livro do Êxodo. Tal recomendação é endossada pela Carta aos Efésios: “Filhos, sede obedientes a vossos genitores” (Ef 6, 1).

O cristianismo prega um Deus paternal, que vela por nós. Trata-se de algo insólito na história das religiões. Não somos órfãos, largados à própria sorte. Os homens podem nos deixar esquecidos, abandonados, à deriva em nossa trajetória existencial. Entretanto, há alguém que nunca nos abandona: Deus. Nossos progenitores terrenos são ícones Dele, que é rico de clemência, pródigo de bondade, compaixão e afeto. Por outro lado, Cristo revelou que a paternidade não consiste simplesmente numa geração biológica, mas em tudo aquilo que faz brotar dentro de nós amor, respeito, fidelidade, confiança, justiça, esperança... Isto significa que Ele ampliou a semântica do termo. Ser pai vai muito além de fatores biológicos. Abrange uma engenhosa construção sobrenatural, densa de significado e plenitude divina. A paternidade constitui-se em substrato afetivo e espiritual, indispensável para se viver com qualidade, não apenas a própria existência, mas também a trajetória de uma sociedade equânime e solidária. Na caminhada humana, nossos genitores são réstias do Divino, acenos do Infinito e janelas do Eterno. Cristo não dispensou o carinho e a proteção de uma figura paterna humana.

Quem não recorda com ternura os que nos transmitiram o dom da vida, dádiva inefável de Deus? Como esquecer aqueles que nos acolheram, quando pequenos ou grandes, com sorrisos e braços abertos? Como não lembrar das histórias que nos contavam, para nos fazer adormecer? É inolvidável sua dedicação, quando após um dia estafante de trabalho, ainda encontravam tempo para brincar conosco. Inesquecível a nossa infância, quando guiavam nossos primeiros passos, sonhando com o futuro. Incalculável o número dos que renunciaram a seus sonhos e projetos para cuidar da formação dos filhos, aperfeiçoando seu caráter, ensinando-lhes a ser verdadeiros, dignos, íntegros e responsáveis. Ao pensar neles, nossos corações transbordam de amor, gratidão e saudade.

Um feliz dia para todos os que transmitiram o dom da vida, amam, educam, protegem e sabem dizer não, quando necessário. Aconselham, mostram a dimensão, o sentido e o valor do ser humano. A eles, nosso perene agradecimento e preces! Cabe rogar a Cristo (que não dispensou a proteção de São José) as bençãos para todos que têm a missão de imitar o gesto divino de gerar. Deus derrame sem cessar graças abundantes sobre seus filhos dedicados, que buscam um mundo mais humano e fraterno. Nossos pais são afagos celestiais, calor e aconchego espiritual para que possamos sentir a presença de Deus bem perto de nós. Parabéns e orações para nossos pais terrenos, que peregrinaram nas estradas da existência e continuarão vivos em cada um de nós. Que o Pai Eterno e Infinito ilumine cotidianamente os que nos geraram e buscam um mundo com menos diferenças e privilégios, no qual os direitos sejam iguais. Não esqueçamos o conselho bíblico: “Aceita, filho, a disciplina do teu pai e não desprezes a instrução de tua mãe; elas serão um formoso diadema na tua cabeça e colares no teu pescoço” (Pr 1, 8).

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

Homem de terno e gravata

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ENCANTOU-SE UM GRANDE AMIGO

ODÚLIO BOTELHO MEDEIROS

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

                Éramos três amigos que brincavam sobre quem partiria primeiro: eu, José Correia de Azevedo e Odúlio Botelho Medeiros. O primeiro, apressadinho encantou-se em 23 de janeiro de 2018; hoje partiu Odúlio e eu fiquei na dor do perdimento, pois foram colegas desde os anos 50. Éramos da mesma idade, diferença de poucos meses.

                Com Odúlio convivi o tempo do rádio, na condição de garotos cantores e posteriormente na labuta constante da defesa das prerrogativas dos Advogados – ele foi meu vice e sucedeu-me na Presidência, numa jornada difícil, que contei em duas edições do meu livro Traços e Perfis da OAB/RN.

                Nos últimos tempos nos reencontramos nas lides do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e na Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, de onde ele foi Presidente, substituindo Jurandyr Navarro da Costa.

                Fazia parte das minhas orações diárias rogando pela sua saúde e agora passará para outra categoria – dos espíritos de luz.

                Sua partida me faz invocar os auspícios da bela poesia de Diogenes da Cunha Lima:

Ser bom amigo é tornar limpa a alma em flor

É bem melhor que ser parente, é ter amor,

Pois ser amigo é ter a alma sempre aberta

Para dois braços que, do abraço, faz a oferta.

.........

É mais feliz quem pode, a alguém, chamar “amigo”.

                Agora a nossa amizade continua no campo espiritual, junto aos seus filhos, fiéis avalistas da nossa amizade, para louvarmos a grande história de quem partiu e deixou incomensurável Saudade.