sexta-feira, 27 de junho de 2025

 


RELEMBRANDO UM GRANDE JORNALISTA

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

 

Cascudo, comentando em tom jocoso o quotidiano do viver em Natal, dizia que ”nesta cidade tudo se vê, tudo se ouve, nada se esconde”. O conceito profissional como jornalista digno e competente foi o referencial que levou o governador Tarcísio Maia a convidar João Batista Machado para assumir e exercer em seu governo o cargo de Secretário de Imprensa. Do mesmo modo nos dois governos de José Agripino Maia, de Radir Pereira e Vivaldo Costa. Também exerceu o cargo de Assessor de Imprensa da Federação do Comércio do Rio Grande do Norte e do sistema SESC/SENAC. Atualmente é Diretor de Comunicação Social do Tribunal de Contas do Estado.

Carlos Castelo Branco, que, através de sua coluna diária no JORNAL DO BRASIL, registrou e analisou a nossa História em 50 anos do século XX, dizia que o jornalista é, ao mesmo tempo, personagem e espectador da História.

E por falar em Castelinho, o genial jornalista que reinventou o jornalismo político no país com brilho e credibilidade informativa, devo dizer que João Batista Machado também assim procedeu com relação ao Rio Grande do Norte, tanto através de suas reportagens ao longo do tempo como através dos seus livros. E registro, igualmente, a simpatia e apreço que o pequeno grande jornalista piauiense devotava ao seu colega de Assú, amizade construída em Natal em 1982, quando aqui veio em missão profissional, deixando os dois, como não poderia deixar de ser, pelos bares e restaurantes natalenses, a marca registrada do consumo do melhor escocês. Quatro anos depois, Machado precisou retificar uma notícia veiculada na célebre coluna do Castelo no Jornal do Brasil a respeito da política do Rio Grande do Norte. E para merecer uma acolhida in totum, nessa coluna, só quem desfrutasse efetivamente de prestígio político e cultural ou da estima pessoal do renomado jornalista. O nosso João Batista ocupou o espaço que a amizade e a admiração do seu colega lhe permitia  na edição do Jornal do Brasil de quarta-feira, 17 de setembro de 1986, através da transcrição de um longo esclarecimento.

João Batista Machado fez História. Seus livros, todos eles, preservam a memória política do nosso Estado. Dá-lhe vigor e autenticidade. Assim se sucederam ”De 35 ao AI-5”, ”Política no atacado e no varejo”,  “Anotações de um repórter político”, ”Como se fazia governador durante o regime militar”, “1960: Explosão de paixão e ódio” e “Perfil da República no Rio Grande do Norte”. A sair, “Testemunho de Ausentes” (48 perfis).  A vida profissional e a obra de João Batista Machado, limpo e isento, há muito tempo, tornaram-no membro desta Casa. Sua posse formal, pública e solene, é apenas mais um gesto de reconhecimento e gratidão da sociedade a quem ele tanto ilustra e honra com seu exemplo de jornalista ético e competente, de uma conduta pessoal feita de dignidade, e sua obra, documento vivo e imperecível da nossa História.

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(*) Escritor 


terça-feira, 24 de junho de 2025

 


São João Batista - Batista, aquele que batiza, nasceu em Israel, próximo de Jerusalém, pela benevolência de Deus através de anúncio do Anjo Gabriel, uma vez que seus pais já eram idosos – Zacarias, era um sacerdote do templo de Jerusalém e Santa Isabel, que era prima de Maria Mãe de Jesus, para ser o precursor do Messias e com a missão de pregar a conversão e o arrependimento dos pecados manifestos através do batismo. Seu nascimento foi fundamental para os novos tempos. João cresceu no deserto, onde viveu com simplicidade, alimentando-se e vestindo-se com o que a natureza lhe proporcionava, batizando o povo no rio Jordão. Foi a voz que clamava no deserto e anunciava a chegada do Salvador. Ele é também o último dos profetas.

No cumprimento de sua Missão, em decorrência de sua credibilidade, o povo pensava que ele era o Messias. Mas ele retrucava: Eu não sou o Cristo, eu não sou digno de desatar nem a correia de suas sandálias. (Jo. 1-27). Em outra passagem, ele disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (Jo.1-29). Batista era uns seis meses mais velho do que Jesus, o verdadeiro Salvador, que o procurou para ser batizado, embora João declarasse: Eu é que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim? (Mt3-14).

Seu ministério foi tão importante que o tornou conhecido e temido, tanto que isso lhe custou perseguição, prisão e morte trágica por ordem do rei Herodes Antipas, verdadeiro fantoche de Roma na Peréia e na Galileia, que praticara adultério, se unindo a Herodíades, sua cunhada.

São João Batista é consagrado como o primeiro mártir da Igreja, e o último dos profetas. Sua festa é celebrada desde o começo da Igreja, no dia 24 de junho.

Consagrado em todos os lugares do mundo, São João Batista tem a maior devoção no Nordeste brasileiro numa dimensão única, proporcionando a celebração constante de eventos religiosos e, em seu aniversário de nascimento, se transforma em um verdadeiro espetáculo de cultura popular.

Registre-se, que nessas festividades, existe o simbolismo da fogueira, que tem origem cristã, pelo fato de que Isabel, teria acendido uma fogueira para avisar Maria sobre o nascimento do filho.

São João Batista, com sua história de fé, coragem e profecia, mantém a tradição pelos seus devotos e continuadores de sua missão de renovação espiritual.

Marca a tradição nordestina a presença de instrumentos e coisas indispensáveis, como simpatias e adivinhações, os tocadores de sanfona, a quadrilha - dança teatral com origem europeia, adaptada pelo povo nordestino; Forró pé de serra, que deram destaque a artistas como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e outros mestres eternizaram a parte musical dos folguedos; enfeites apropriados – bandeirinhas e balões; fogueira, comidas especiais: pamonha, milho cozido ou assado, canjica, mungunzá, bolo de milho, pé de moleque. Na parte mais religiosa não podem faltar a fé popular nas Missas e procissões: nas igrejas e celebrações comunitárias.

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Texto e pintura de Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

Padre João Maria, apóstolo dos pobres

Padre João Medeiros Filho

No centro da Cidade do Natal, perto da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, onde Padre João Maria Cavalcanti de Brito foi pároco por mais de duas décadas, há um busto do eminente sacerdote, modelado pelo escultor Hostílio Dantas, em 1919. Decorridos quase cento e vinte anos do seu falecimento, em 16 de outubro de 1905, muitos devotos ainda recorrem à intercessão daquele que ficou conhecido como apóstolo dos pobres, em busca de conforto espiritual. Eis a demonstração da santidade de um sacerdote que viveu plenamente o Evangelho. Nascido em 23 de junho de 1848 na zona rural de Caicó, hoje município de Jardim de Piranhas, continua alimentando a fé de gerações que sequer o conheceram pessoalmente. Permanece vivo e presente na memória de milhares de fiéis. Padre João Maria tocou o coração de nosso arcebispo metropolitano, Dom João Santos Cardoso, que, pouco depois de aqui chegar, se empenhou em introduzir junto à Santa Sé o processo de beatificação do inolvidável presbítero.

Para se ter uma ideia de sua popularidade, o sepultamento do pároco natalense reuniu quase toda a população da capital potiguar, à época. No cortejo da matriz até o Cemitério do Alecrim onde foi sepultado, estavam presentes desde o governador do estado, Dr. Augusto Tavares de Lyra até o pastor evangélico da cidade. Além de sacerdote, Padre João Maria foi uma espécie de médico e assistente social dos desvalidos, aos quais atendia com carinho e solicitude. Percorria, a pé ou montado num jumentinho, os bairros pobres de sua paróquia para levar mensagens de esperança aos miseráveis, medicar os doentes com remédios caseiros por ele preparados e prestar conforto aos moribundos, ministrando-lhes a unção. O seu lema era “Fiz-me tudo para todos” (1Cor 9, 22), conforme o ideal do apóstolo Paulo. Este, de modo inspirado, escreveu o Hino à Caridade (1Cor 13), que marcou o antigo pároco da capital potiguar.

 O ambiente cristão de sua família contribuiu para despertar nele a vocação religiosa. Os amigos e párocos do Seridó ajudaram-no a custear seus estudos no Seminário de Olinda (PE), para onde viajou aos 13 anos a fim de fazer o curso eclesiástico. Levava na parca bagagem uma carta de apresentação de Padre Francisco Rafael Fernandes, mais conhecido como Visitador Fernandes, pró-pároco de Caicó. Concluiu os estudos de Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE). Ali, foi ungido presbítero, aos 30 de novembro de 1871, por Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo da diocese cearense. Exerceu seu ministério sacerdotal na terra onde nasceu, em Santa Luzia (PB), Acari, Florânia, Nísia Floresta e Natal.

Sua compleição era a de um sertanejo. Tez amorenada, queimada pela canícula nas longas e cotidianas caminhadas que empreendia para cuidar do seu rebanho, sobretudo dos humildes e esquecidos. Segundo os cronistas da época que registram sua inestimável obra de caridade, o ínclito sacerdote tinha um olhar penetrante. Sorria pouco, mas de bom humor, sendo extremamente simples e afetuoso. Bondoso e manso, muitos dos seus contemporâneos o chamavam de “João de Deus”. Talvez se vivesse em nossos dias, estaria presente e animando a Ronda Fraterna e a pastoral dos irmãos em situação de rua, distribuindo a sopa e os sanduiches com aqueles que promovem diariamente a “Ceia com Jesus”.

Em Natal, residiu na esquina da praça que hoje leva o seu nome – outrora Praça da Alegria – e abriga o busto erguido em sua homenagem. Tal recanto tornou-se o destino da romaria dos infelizes que buscam algum tipo de consolo­ material ou espiritual. Era comum o venerável sacerdote dar seu próprio almoço aos que estavam com fome. Conforme os jornais da época, costuma doar aos enlutados o tecido que ganhava para fazer uma batina. Ofertava aos necessitados a rede em que dormia, passando a noite no chão até ganhar outra, que acabava tendo o mesmo destino. A mesada que recebia do irmão bem-sucedido (o jurista e ministro Amaro Cavalcanti, residente no Rio de Janeiro) era repartida com os carentes. Viveu a recomendação do apóstolo Paulo: “Mostrai-vos solidários com os irmãos em suas necessidades” (Rm 12, 13).